“O QUE ESTAMOS A FAZER É CRIAR AS CONDIÇÕES PARA SAIR DA CRISE ATUAL”
Trocou a cidade de Vancouver, no Canadá, para regressar a Lisboa, porque achou que o seu contributo “era importante” para ajudar o país a “ultrapassar as dificuldades”. Convidado por Pedro Passos Coelho para assumir a pasta da Economia, o ministro, que conta com uma vasta experiência académica nessa área, implementou até à data diversas reformas importantes, tais como a reforma da lei laboral, da lei da concorrência, dos licenciamentos industriais, do processo especial de revitalização, entre outras. Assim, em apenas um ano, e na sua opinião, o Governo conseguiu eliminar “constrangimentos à competitividade da economia”, bem como aumentar “a capacidade de financiamento das empresas” e suprimir “os obstáculos que estavam a impedir que a economia crescesse”. Na opinião do ministro da Economia e do Emprego, “têm sido pedidos grandes sacrifícios aos portugueses”, contudo, “o Governo provou já que está também muito empenhado em adotar medidas que estimulem o crescimento da economia, seja através do redirecionamento do investimento público para o tecido produtivo, gerador de riqueza e de postos de trabalho; seja através da criação de medidas que reduzam os constrangimentos ao crescimento das empresas”, conclui Álvaro Santos Pereira.
Deixar tudo e vir para Portugal assumir funções num Governo em tempos tão difíceis foi uma decisão complicada?
Não. Sabia bem, quando aceitei o convite para integrar o Governo, que Portugal vivia uma situação bastante complicada, que exigia de todos um grande sentido de responsabilidade. Nunca me furtei às minhas responsabilidades, achei que era importante contribuir neste momento para ajudar o país a ultrapassar as dificuldades.
O que o motivou?
Sempre tive uma postura muito ativa e crítica sobre a forma como Portugal estava a ser governado ao longo dos últimos anos. Achei que era importante, para além de ter essa postura crítica, contribuir para uma mudança profunda e estrutural do país, senti que era meu dever, enquanto português, dar a minha ajuda. Tenho três filhos pequenos e quero que eles possam ter um futuro em Portugal.
Já, por algum momento, se arrependeu de o ter feito?
Não, nunca.
O que é que o tem desiludido mais neste ano de funções governativas?
Não punha a questão nesses termos. O que há é uma grande preocupação com o nível de desemprego que neste momento se abate sobre os portugueses, bem como com as dificuldades de financiamento das nossas empresas.
Alguma vez pensou que, a esta altura, a situação do país, apesar de tudo o que o Governo tem feito, ainda fosse tão má? Isso desmotiva?
Nós sabíamos que o ponto de partida era muito difícil, muito exigente. Sabíamos que para dar a volta era preciso trabalhar e continuar a trabalhar. Nos últimos anos, a atuação do Governo esteve mais virada para a retórica e para a propaganda, do que para a resolução dos problemas estruturais da economia portuguesa. O acumular dos défices, o aumento da dívida pública, o endividamento excessivo do Estado, ao longo da última década, conduziram-nos a uma situação de quase bancarrota. Foi com esse cenário que começámos a trabalhar. É na inversão deste modelo que temos vindo a trabalhar. Com a implementação de reformas estruturais, com o redirecionamento do investimento público, com o fim das obras faraónicas de rentabilidade duvidosa. O que estamos a fazer é criar as condições para sair da crise atual e garantir que Portugal nunca mais passe por uma situação semelhante.
Qual tem sido o principal orgulho?
Ao longo do último ano foram muitas as reformas estruturais que conseguimos pôr no terreno. Falo, por exemplo, da reforma da lei laboral, da lei da concorrência, dos licenciamentos industriais, do processo especial de revitalização. Com estas reformas, e em apenas um ano, eliminámos constrangimentos à competitividade da economia, aumentámos a capacidade de financiamento das empresas e suprimimos os obstáculos que estavam a impedir que a economia crescesse.
Muitos têm-lhe apontado falta de peso político dentro do Governo. Como lhes responde?
Sempre respondi às críticas da mesma forma: com trabalho e com as reformas que foram feitas.
Sente que esse ónus de ser menos político que outros ministros lhe retira capacidades negociais ou peso?
Essa é uma questão que não me preocupa. É mais do que natural que um ministro independente, cujo único objetivo é defender o interesse nacional, seja alvo de ataques por parte dos grupos de interesse que se habituaram a ser protegidos ao longo de anos. A isenção incomoda. Se fosse fraco como algumas pessoas tentam fazer crer, não teríamos cortado as rendas excessivas na energia, não tínhamos avançado com uma reestruturação profunda do setor empresarial do Estado, não teríamos incomodado tantos lóbis e interesses instalados. (…)