UM PASSAPORTE DOURADO DE MEIO MILHÃO DE EUROS
Os “vistos gold” tentam atrair investimento para Portugal. Milionários chineses são dos principais interessados num programa que já atribuiu 145 títulos de residência especiais.
São Cristóvão e Nevis. O nome diz-lhe alguma coisa? Provavelmente não. Mas se lhe dissermos que se trata de um país soberano em pleno mar do Caribe e com uma população de pouco mais de 30 mil habitantes, a maioria descendente dos escravos africanos, também ficará longe de imaginar que um desses habitantes é hoje um importante investidor em Portugal. É de São Cristóvão e Nevis um dos 145 cidadãos estrangeiros que receberam já este ano um reluzente “visto gold”, o programa lançado por Paulo Portas para atrair investimentos em época de crise. A medida surgiu sob a chancela do então ministro dos Negócios Estrangeiros, no ano passado. Os objetivos sempre foram muito claros: atrair investimento e dinheiro para o país, dando em troca títulos de residência especiais. Para isso basta cumprir três requisitos: adquirir imóveis no valor igual ou superior a meio milhão de euros, proceder a investimentos que criem pelo menos 30 postos de trabalho diretos ou transferir capitais em valor superior a um milhão de euros para o nosso país.Tal como um cartão de crédito dourado, que reluz na carteira e é sinal de status (vulgo ter uma quantia avultada no banco), também o visto dourado ou “gold” é sinónimo de riqueza e de poder. A diferença é que este cartãozinho dourado significa uma Autorização de Residência para Atividades de Investimento (ARI) em Portugal e, por arrasto, abre totalmente a cidadãos extracomunitários as portas do espaço Schengen.
90,2 milhões de euros em cinco meses
Não é por isso de estranhar que estes “vistos gold” sejam um atrativo que os países europeus estão a usar paraatrair investimento estrangeiro em época de crise. Em setembro, o balanço em Portugal era já bastante positivo: 145 “vistos gold” em cinco meses e o montante global de investimento a rondar já os 90,2 milhões de euros. De acordo com informações do Ministério dos Negócios Estrangeiros, os cidadãos estrangeiros que mais investiram em Portugal para obter estes vistos são chineses, seguindo-se os russos, angolanos e brasileiros. Ao todo, foram atribuídos “vistos gold” a cidadãos de 15 países, incluindo Colômbia, Tunísia, Líbano ou EUA. E ainda o tal micropaís: S. Cristóvão e Nevis.O primeiro “visto dourado” foi atribuído em março, durante a visita de Paulo Portas à Índia, a um cidadão daquele país.A concorrência é apertada. Espanha já aprovou uma medida semelhante e países como o Chipre, a Grécia ou a Irlanda têm também programas muito parecidos. O mesmo acontece com os Estados Unidos, a França ou o Canadá, os modelos que serviram de inspiração a Paulo Portas para a lançar em Portugal como forma de dar a volta à crise.O setor imobiliário, em especial, agradece. E aqui, parece que são os chineses quem mais ordena. Os milionários de olhos em bico estão a fazer as delícias das imobiliárias que trabalham com o mercado de luxo. Procuram residências topo de gama e espaços comerciais em zonas nobres da cidade de Lisboa, com um olhar para a periferia que se estende pela costa do Estoril e pelas belas paisagens naturais de Sintra.
Setor imobiliário de olho no programa
A procura é tanta e tão interessante, que, por exemplo, a rede Era já fez uma parceira com gabinetes de advogados especialistas na área e há também quem esteja a contratar chineses bilingues para facilitar as negociações. Angolanos e brasileiros são outros dospotenciais clientes que mais visitam estas mediadoras em busca de um investimento que lhes garanta o tão ambicionado visto “gold”. Quem está de olho neste programa são os responsáveis do Pine Cliffs, o resort de luxo em Albufeira, com apartamentos e moradias entre os 745 mil e os 4,5 milhões de euros. Ao Expresso, o diretor-geral da United Investments Portugal, proprietária do Pine Cliffs, dizia que ficaria “desiludido” se não conseguisse “pelo menos o dobro das vendas” com esta iniciativa do Governo. Os principais alvos são os países asiáticos e os restantes países emergentes como a Rússia ou o Brasil. O segredo aqui é vender o espaço Schengen que surge como a cereja no topo do bolo para quem obtém visto de residência em qualquer um dos países europeus que estão dentro do acordo. Portugal tenta beneficiar com esta vantagem que tem para oferecer. (…)