TURISMO CONTRA A AUSTERIDADE, MARCHAR, MARCHAR
Num país onde “crise”, “austeridade”, “recessão”, “cortes” ou “desemprego” têm sido as palavras mais ouvidas nos últimos anos, há um setor que se distingue pela positiva: o turismo. Num país à “beira-mar plantado”, como dizia Camões, o turismo tem sido a grande aposta de negócio e aquela que, no final de três anos de troika e resgate, tem melhores resultados para apresentar.
Têm sido comuns as notícias com títulos como “Porto eleito melhor destino europeu de férias”, “Lisboa eleita melhor destino do mundo para escapadelas” ou “CNN destaca Ericeira como destino de surf”. E não é por acaso. O ano de 2013 foi mesmo o melhor de sempre para o turismo em Portugal e a perspetiva é que os números de 2014 venham a superar os do ano passado. “Um campeão da economia nacional” foi como o ministro da Economia, António Pires de Lima caracterizou recentemente o setor. Os valores do primeiro trimestre de 2014 seguem a linha de crescimento verificada no último ano, e o número de turistas aumentou em 7,1% em comparação com o período homólogo. Os primeiros três meses do ano resultaram em mais 4% de dormidas, mais 6% de hóspedes e ainda num aumento de 5,9% nos proveitos de aposentos na hotelaria. O setor ajudou ainda à “quebra no desemprego”, com a criação de 25 mil postos de trabalho no turismo e restauração nos últimos 12 meses. Não é por isso de estranhar que este seja apontado como “o setor que mais contribui para o saldo positivo da balança de pagamentos e um dos maiores setores exportadores nacionais”, segundo o ministro. O Governo tem tentado dar uma ajuda. Na tutela do secretário de Estado Adolfo Mesquita Nunes, a “guerra” tem sido contra a burocracia, e a missão principal, a promoção de Portugal e a busca de novas oportunidades que possam garantir o crescimento do setor nos próximos anos. O que pode não ajudar a esta tarefa é o aumento de impostos que sucessivamente outras áreas do Executivo vão introduzindo. A subida prevista em 2015 na taxa do IVA, para 23,5%, pode ser uma das areias na engrenagem. Mas voltemos às boas notícias. Um dos últimos dados divulgados pela Organização Mundial do Turismo (OMT) coloca Portugal como o 13.º país com maior excedente turístico do mundo em 2013. Márcio Lucca de Paula, diretor executivo da organização, no lançamento da Nova Estratégia de Comunicação Digital do Turismo em Portugal, divulgou os números e apontou o resultado positivo de 6100 milhões de euros, o que, lembrou, corresponde a 3,7% do Produto Interno Bruto (PIB).
Mercados tradicionais continuam a liderar receitas
Um estudo do Conselho Mundial de Viagens e Turismo mostrou, no início do ano, valores ainda mais surpreendentes. Segundo esse documento, o contributo do setor para o PIB em Portugal é de 5,8% e de 7,2% para o emprego direto, enquanto a nível global a média é de 2,9% e de 3,4%. Traduzindo esse valor, significa que o turismo vale mais para a economia, emprego e investimento em Portugal do que no resto da Europa e no mundo. O papel do setor na recuperação do país tem sido sublinhado por várias instituições, desde logo o próprio Fundo Monetário Internacional (FMI) no relatório da 10.ª avaliação ao programa português. Houve no entanto um alerta: os resultados positivos em Portugal estão muito dependentes da conjuntura dos países de origem dos turistas, como Espanha, França ou Reino Unido. E se é certo que muita coisa mudou na forma como se viaja hoje em dia e o tipo de férias que se escolhe, essa constatação não é tão verdadeira para os mercados de origem que dominam a tabela em Portugal e que são exatamente os mesmo três países europeus. O seu peso tem, ainda assim, vindo a diminuir, ao mesmo tempo que se multiplicam os gastos originários de turistas russos, chineses e angolanos. Se tivermos em conta as ofertas de luxo que existem no país, esse aumento é ainda mais significativo. Em 2013, as receitas turísticas atingiram os 9249,6 milhões de euros. França consolidou o estatuto de maior contribuinte para os proveitos do setor, com as despesas dos turistas do país a subirem 8,6%, para 1668,5 milhões, segundo dados do Banco de Portugal. Já Angola tem tido uma evolução intensiva e hoje é já o quinto mercado mais importante para o turismo português. Em 10 anos, as despesas feitas por turistas angolanos em Portugal subiram 330%, passando de 119,5 para 513,9 milhões de euros. Mas a maior subida vem do lado da Rússia, que cresceu 770%, ainda que o peso seja de apenas 0,9% do total.
Portugal aposta agora tudo num novo plano de promoção do turismo em Portugal e que se centra em exclusivo no digital. Com isto contribui-se para a redução do orçamento do Turismo de Portugal em 30% e também para um decréscimo dos gastos com publicidade (de cerca de 10 milhões de euros passa-se este ano para uma previsão de cerca de metade desse valor), segundo os dados divulgados pela instituição. O menor investimento, os resultados mais eficazes e a crescente utilização da Internet como forma de planear viagens, por grande parte dos turistas, são alguns dos principais motivos para a aposta. O modelo publicitário está agora centrado em Portugal como um todo e não em promoções regionais e já decorre em 13 mercados (Alemanha, Brasil, Dinamarca, Espanha, França, Holanda, Irlanda, Itália, Polónia, Reino Unido, Rússia, Suécia e Estados Unidos), 11 idiomas e 400 campanhas. Os meios de divulgação são o Google (Google adWords e Google Display), o Facebook e o Youtube. A política de “fazer mais com menos” presente neste plano permitiu reduzir as despesas com promoções (eventos, feiras, comunicação/publicidade) em 20,6 milhões de euros durante os últimos três anos. Apoiar a vinda de canais de TV, jornais ou revistas estrangeiras também faz parte da nova estratégia, bem como o apoio a operadores turísticos e a novas rotas aéreas. E como se vende Portugal? O presidente da Confederação de Turismo de Portugal, Francisco Calheiros, reforçou recentemente numa conferência a mensagem: “Somos o melhor destino de golfe e de praia com alguns dos melhores resorts do mundo, temos as cidades ideais para viagens de curta duração ou de negócios, e para acolher grandes eventos internacionais. Escondemos segredos únicos em recantos do país, como no Alentejo. Estamos entre os destinos mais procurados de passageiros de cruzeiros”, enumerou o responsável numa tentativa de mostrar por que razão Portugal é um destino tão atrativo e com tanto potencial. “É essencial reforçar a imagem de Portugal como um país moderno, acolhedor e seguro, onde é possível passar férias com a família sem correr riscos”, concluiu.