TERESA GONÇALVES LOBO

teresa-gonc%cc%a7alves-lobo-4269“QUANDO CRIO, MERGULHO EM MIM!”

Teresa Gonçalves Lobo é uma artista madeirense com um percurso de afirmação em Portugal continental e no exterior.  Nascida na Madeira, em 1968, Teresa fez formação em Desenho, Pintura e Gravura no Ar.Co, em Lisboa, bem como um curso de Fotografia no Cenjor. A definição e enquadramento dos seus trabalhos em cânones artísticos é algo que nem a própria artista se sente à vontade em fazer, isto porque mais do que de definições, os trabalhos de Teresa Gonçalves Lobo precisam de ser “sentidos” e isso é algo que a artista deixa para quem “os vê e sente”.

Como surgiu o seu interesse pela arte?

Interesse em ver, sempre tive! Desde criança! Lembro-me de ter entrado pela primeira vez num museu, o Museu de Arte Sacra do Funchal, tinha nove anos, numa visita de escola. Fiquei deslumbrada com as pinturas flamengas e nunca esqueci a luz que saía do Menino Jesus na Adoração dos Reis Magos (que anos mais tarde vim a saber de que obra se tratava, na altura, claro que não sabia). Depois recordo-me de, aos 12, não querer sair do Museu Egípcio, em Turim, e de aos 15 anos concretizar um grande sonho, ir ao Museu do Louvre.

Teve educação artística? Artistas na família?

Os meus pais foram aos museus pela mão dos filhos, não o contrário. Mas sempre me incentivaram a ver, a conhecer.  No que à formação artística diz respeito, não me deixei formatar, mas foi sem dúvida muito importante a formação. Não seria a mesma se não a fizesse. Fiz o curso de Desenho, o curso de Pintura e frequentei o atelier de Gravura no Ar.Co, Centro de Arte e Comunicação Visual, e o curso de Fotografia no Cenjor, Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas, em Lisboa.

A cada trabalho seu corresponde uma ideia?

A cada trabalho corresponde uma entrega.

Quais são os seus mestres na arte?i-chair-long-3088

A vida, a natureza, uma árvore, um olhar, um sorriso, um abraço. Comecei a estudar arte depois dos 30 anos, e o que a princípio parecia ser uma desvantagem acabou por não o ser. Desenhei livremente. O desconhecimento de muito do que já tinha sido feito no mundo da arte, em parte, foi uma vantagem, porque me permitiu ter maior liberdade. Só quando comecei a expor e a ouvir os comentários é que me apercebi de algumas proximidades que o meu trabalho poderia ter com outros artistas que nem conhecia. Dou dois exemplos: Hans Hartung e Motherwell. Sinto-me feliz quando me comparam aos grandes. Sinto que tocamos a mesma linha.   É para mim incrível ter feito trabalhos tão próximos dos deles, artistas que eu não conhecia. Pelo menos que tenha consciência disso.

Porque prefere o desenho à pintura ou ao design?

Adoro o desenho! A nudez da linha! A verdade do traço! Gosto muito de pintura, de gravura, de fotografia, de escultura, de design, de poesia, de música, dança… Quando é bom, gosto, adoro! Preenchem-me todas as artes.

 

Como define os seus desenhos? É possível enquadrar os seus trabalhos nos cânones artísticos existentes?

Definir os meus desenhos… Mais do que de definições, eles precisam de ser sentidos.  Deixo essa tarefa para quem os vê e sente.

Qual foi a obra em que mais gostou de trabalhar? Qual foi a sua temática preferida?

Não se desenha por obrigação, é por paixão. Sempre que estou a fazer um trabalho é porque quero fazê-lo, porque estou motivada. Porque preciso de fazê-lo. É oxigénio. É alimento da alma. Não posso dizer que tenho uma temática preferida. Tenho os desenhos de linhas leves, lentas, suaves, que quase pedem autorização para existir; outros desenhos de linhas fortes, intensas, que me levam toda a energia; desenhos de caligrafias, palavras, letras que fluem, com ou sem linhas; os “is” que me acompanham há vários anos, que saltaram do papel para esculturas de bronze e ainda para duas peças de design, a i Chair e a i Chair Long, desenhadas por mim e executadas nas oficinas da Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva. Todos os trabalhos nascem no meu interior.

Quando cria inspira-se numa temática, num objeto exterior a si, ou a arte é puro exercício de intelecto?

Quando crio, mergulho em mim. Sigo o coração, o pulsar, a emoção, o instinto…Sigo a linha, o traço, o som… Deixo o corpo ser e me levar… O intelecto não é para aqui chamado.

Que reações pretende que as suas obras criem nas pessoas? O que pretende transmitir com o seu trabalho?

Não pretendo nada, apenas faço. Mas este fazer é uma entrega total. O momento de criar é só meu. É um tempo em que não existe público. Depois há o momento da exposição, aí sim, quero que seja visto, que seja divulgado, acho que ele merece. Depois o público que faça a sua parte e seja livre, tal como eu sou, ao fazê-lo.

A Madeira é, para si, uma inspiração? É mais feliz a criar nesta ilha ou fora dela?tgl_ja31297-copy-copy

A Madeira é muito especial para mim, parece que me sinto mais perto da natureza quando lá estou. É como se tivesse a mesma raiz que aquelas plantas. É como se pertencesse àquele mar. Sinto-a tão intensamente que quando acontece algo menos bom, sofro e choro com ela. O Porto Santo é outro sítio onde adoro desenhar, tem uma energia fantástica e transmite uma paz incrível.  A grande parte do tempo estou em Lisboa e é aqui que desenho nos grandes formatos. É aqui que tenho também as condições para tal. Eu sou feliz quando desenho e tento sempre ser feliz onde estou. Sou mais feliz quando me sinto parte da natureza em qualquer parte do mundo!

Na sua opinião a arte, na atualidade, sofre, de alguma forma, os efeitos da cultura de massas?

A arte não sofre. Os artistas, sem dúvida! As pessoas sofrem por falta de arte nas suas vidas. A arte ajuda-nos a sermos mais felizes, a superar as dores que a vida tem. A Arte, depois há outras coisas, que por vezes são chamadas de arte mas não são.

Podemos esperar novidades para breve? Novas áreas de intervenção, novas exposições, etc.

Sim, novidades, sim. Entre nós é uma exposição de desenho, instalação e fotografia, a acontecer em dois espaços de duas cidades, Funchal e Lisboa. No Funchal, será inaugurada a 19 de novembro, no meu atelier (Rua da Carreira 39, 2B), onde fará parte da programação do Congresso Internacional Herberto Helder – “A vida inteira para fundar um poema”, organizado pela UMa-CIERL, com curadoria de Diana Pimentel, que se realiza entre 21 e 23 de novembro de 2016. Em Lisboa, inaugura a 26 de novembro, na Galeria das Salgadeiras (Rua da Atalaia, 16, no Bairro Alto).