PEDRO MOTA SOARES

AGENTES ECONÓMICOS – Liquidez. Vai ser preciso ir muito longe para garantir liquidez a quem mantém a economia a funcionar e as condições para o fazer. Garantir liquidez à economia. Liquidez às PME, que são a espinha dorsal do tecido económico. Liquidez às que têm e querem manter os seus postos de trabalho. Liquidez com critério, mas que permita a salvação das empresas que são viáveis e que vão precisar de estofo financeiro para sobreviver. Acredito na resiliência dos nossos empresários, na qualidade dos nossos recursos humanos, na capacidade de empreender e de ultrapassar dificuldades, que temos em Portugal. Não será a primeira vez que enfrentamos tempos de tormenta e dificuldade. Mas também sei que não basta acreditar. Vai ser preciso saber ouvir os agentes económicos, vai ser preciso apoiar as empresas, vai ser preciso ir muito longe para garantir liquidez a quem mantém a economia a funcionar e as condições para o fazer. As autoridades europeias e as autoridades nacionais têm de estar dispostas a ir onde nunca fomos, porque na verdade nunca tivemos uma situação como esta numa economia tão globalizada. 

Falta de solidariedade – A crise que a União Europeia atravessou até agora tem sido a crise da falta de solidariedade: Falta de solidariedade na crise das dívidas soberanas, que criou clivagens entre o Norte e o Sul, os supostos credores e os alegados devedores, onde alguns viram até diferenças religiosas entre católicos e protestantes; Falta de solidariedade na crise dos refugiados, deixando os países do Sul e com fronteiras a oriente sozinhos a lidar com uma crise humanitária, que rapidamente se transformou numa crise institucional; Falta de solidariedade no processo (em curso) de negociação do Quadro Financeiro plurianual, com os países da coesão de um lado e os frugais (ou forretas, como lhes chamou o nosso primeiro-ministro) do outro. Nunca tanto como hoje vamos precisar dessa solidariedade europeia. 

Medidas que a economia precisa – Na resposta à crise de saúde pública, com verdadeira coesão e capacidade de resposta ao nível da União, mas também solidariedade para podermos tomar as medidas que a economia precisa. Medidas para salvar postos de trabalho. Para salvar empresas e empreendedores. Para garantir que podemos continuar a investir de forma sustentada em inovação e transformação digital; em investigação científica e na formação de alto nível de recursos humanos, num mundo que continuará velozmente a ser diferente e competitivo. Os tempos que se seguem são de enormes desafios. Para Portugal, um país com elevados níveis de dívida tanto pública como privada, um país com pouca liquidez e pouca capacidade de manobra, o desafio é ainda maior. Vai ser preciso união, sem unanimismo; sacrifício, sem contraste; resiliência, com visão e capacidade de ação. Que consigamos todos estar à altura. 

Post Scriptum: A FRONTLINE faz anos. Mesmo num momento tão difícil, em que não podemos estar fisicamente juntos, quero dar um enorme abraço de parabéns a todos que fazem esta revista. As datas dão sentido à história e os tempos estranhos e difíceis que nos são dados a viver não nos podem desfocar do essencial.