“ANDO HÁ ANOS A LUTAR PARA QUE DEIXEM TRABALHAR EM MACAU VÁRIOS ESTUDANTES DE OUTROS PAÍSES”
Vice-presidente do Hotels & Hospitality Galaxy Group, Luís Lobo está consciente de que a Região Autónoma Especial de Macau está muito centrada no turista chinês, que ali chega apenas para jogar. O empresário sublinha como necessário que surjam mais turistas vindos de outras partes do mundo, isto porque só assim se justifica o grande “leque de oferta” que existe. Preocupado com a falta de mão de obra qualificada e não qualificada na área hoteleira, Luís Lobo destaca o não conhecimento da língua chinesa como um grande entrave para receber trabalhadores de outros países, nomeadamente Portugal. “Como somos nós que recebemos [sobretudo o turista que fala chinês], faz sentido que sejamos nós a adaptarmo-nos”. Para além de existirem infraestruturas e serviços que estão subaproveitados, outro dos grandes problemas de estarem apenas centrados num mercado é, na sua opinião, o facto de os trabalhadores sentirem falta “do reconhecimento dos clientes”, que, tal como conclui, “é tão importante para esta indústria”.
O que o levou a aceitar o convite para trabalhar em Macau e mais especificamente no Galaxy Group?
Foi um regressar a casa. Tive a oportunidade de reintegrar o grande boom prometido para Macau. Uma vez que a família não estava comigo, pareceu-me uma boa oportunidade para aproveitar. Como Macau é um destino de jogo, esta hipótese de me juntar a um grupo ligado a essa área foi muito vantajosa para mim. Optei pelo Galaxy e não por outros grupos estrangeiros porque gostei do desafio de poder participar numa nova criação. Na altura, o Galaxy praticamente não era entidade nenhuma e, em vez de me juntar a uma cadeia hoteleira americana, que já tem os programas definidos, tive oportunidade de, durante oito anos, criar o que, atualmente, este grupo tem para oferecer.
Quais os desafios que enfrenta num grupo como este?
A escala do projeto – é bom referir que estamos com 2500 quartos e que vamos ter mais 1500 dentro de pouco tempo com a abertura prevista do The W Marriott e do Ritz Carlton, em fins de 2014 – é muito grande. Neste grupo estamos a falar não só de hotéis e de número de quartos, mas também do retail, os casinos, os restaurantes, e para tudo isso tem de haver coordenação e coerência.
Quais são as suas funções?
Atualmente, tenho como funções procurar parcerias, coordenar e orientar novos parceiros e avaliar a qualidade do serviço. Mas é bom salientar que Macau tem um grande desafio para todos nós que estamos nesta área, que é a mão de obra, ou a falta dela.
Como se deu a sua entrada para o segmento hoteleiro? Qual foi o seu percurso profissional até aqui?
O meu percurso foi interessante, do ponto de vista pessoal, uma vez que saí de Macau e fui para os Estados Unidos da América para estudar. Passei lá quatro anos e meio e licenciei-me em Hotel and Restaurant Management. Depois fiz a trajetória normal, fui para a Europa, estive em Londres, em Genebra, em Portugal, e fui fazendo várias coisas, sempre tendo como base a Alimentação e Bebidas. A certa altura, mudei para os Quartos e para a Administração Geral. Vim para a Ásia, onde tive o privilégio de fazer a abertura do Regent Hong Kong, o melhor hotel naquela altura, e trabalhei em vários géneros operacionais de hotéis – de cidade, casino, praia, golf club. A única coisa que ainda não experimentei foi aparthotel.
Em Macau existem diversas unidades hoteleiras de excelência. O que distingue o Galaxy Hotel das restantes?
Esta unidade está ligada a um grupo de grande prestígio, que em menos de 10 anos passou a fazer parte da elite, não só aqui em Macau, mas a nível mundial, graças ao jogo. Hoje em dia, em qualquer parte dos Estados Unidos, todos sabem onde é Macau e todos percebem que o Galaxy Group está no topo.
Em termos de atividades, quais as principais ofertas da unidade? Quais as mais procuradas pelos hóspedes?
O complexo inclui o Galaxy Hotel, com 1500 quartos, e outros dois parceiros, o Okura, de grande prestígio, com 500 quartos, e o Banyan Tree, com 250 villas, que é conhecido mundialmente como um dos melhores operadores de resorts. Em 2014/2015 surgirá o The W Marriot, com 1200 quartos – será o maior do mundo – e o Ritz Carlton, com 255 suítes, que vai ser o maior allsuites integrado.
No futuro, vamos ter um complexo de entretenimento, um centro de conferências, casinos, lojas e, no mínimo, seis ou oito mais marcas de hotéis.
Quais são os vossos principais mercados? De que países recebem mais hóspedes?
Cerca de 60% dos turistas que Macau recebe são oriundos da China. Segue-se Hong Kong, Taiwan e outros mercados que estão a crescer, como a Coreia e o Japão. Destaque ainda para as Filipinas, Indonésia, entre outros. Um dos problemas do destino Macau é o facto de estar muito dedicado ao turista da China, há que fazer esforços para que esta realidade mude.
Macau não pretende despertar a atenção de outros mercados?
Macau já tem cerca de 30 mil camas, daqui a dois anos estaremos nas 50 mil, mas não nos preocupamos com outros países, estamos muito focados nos nossos países vizinhos.
Está provado que Macau cresceu mais e melhor do que, por exemplo, Las Vegas. Onde é que Macau vai buscar mão de obra especializada? Portugal pode ganhar com isso?
Macau não tem outra hipótese, tem que aceitar – e já tem – mão de obra importada, não qualificada e qualificada. O número de quartos que temos exige mais pessoal. O governo tem que refletir mais sobre o assunto porque não conseguimos continuar a crescer mais se não apostarmos em mais mão de obra. A indústria de serviços, de hotelaria, não é atraente para o jovem, hoje em dia, isto porque aqui nem é necessário acabar o liceu, os jovens têm logo trabalho. Depois faltam pessoas para limpar os quartos, para transportar as malas, entre outras coisas tão necessárias.
O crescimento de Macau pode passar pelos territórios chineses vizinhos?
Sim, claro. Não sei se é do conhecimento público, mas o meu grupo de trabalho já tem um projeto para ocupar a ilha de Hengqin, num local onde já se vê grande movimento.
Aí o jogo pode ser permitido?
Não me parece que isso seja possível, provavelmente vamos ter de apostar em parques temáticos e infraestruturas para as famílias, mas não custa muito dar um pulinho até aqui para jogar.
Macau tem condições para continuar a absorver todos quantos estão ávidos de conhecer a região?
Na minha opinião, não. Não sei para onde podem ir mais pessoas, isto porque 60% dos turistas pernoitam, mas a verdade é que estamos abaixo das duas noites, porque muitos turistas não pernoitam.
Com a continuação da abertura de novos casinos, Macau pode correr o risco de ter mais oferta do que procura?
Por enquanto não, e desde que se faça um desenvolvimento “smart”, que aposte na diversificação dos mercados e que traga para cá aqueles que não vêm só para o jogo, então justifica-se a variedade e todo este leque de oferta que temos. O grande problema é que a maioria dos turistas chineses que vêm a Macau vêm para jogar, e mesmo que fiquem uma, duas ou mais noites, não fazem mais nada para além do jogo. Temos é de apostar nos seus acompanhantes que vão para as lojas, para restaurantes, etc.
E o campus universitário? Que benefícios trará?
Ando há anos a lutar para que deixem trabalhar em Macau vários estudantes de outros países. Atualmente podem fazer apenas um estágio de três a seis meses, e depois não ficam porque não é possível.
Quando entrou um concorrente no mercado, falou-se que em seis meses conseguiria recuperar o investimento. Macau é mesmo assim?
Sim, é possível que isso tenha acontecido. O nosso hotel já teve 12 trimestres consecutivos de crescimento. O grande problema – a que felizmente o governo já começa a reagir – são as PME. Até agora, estas pequenas empresas não tinham acesso a investimento e empréstimos, e muitos turistas, em dias de feriado, chegam a restaurantes e lojas que estão fechados porque os proprietários não têm capacidade para pagar aos seus funcionários a triplicar. Por tudo isto posso afirmar que Macau não está totalmente orientado para o turismo.
Portugal pode fazer protocolos com Macau para tentar minimizar a falta de mão de obra?
Sim, mas há limitações devido à língua, isto porque o turista que nos visita só fala chinês, e como somos nós que recebemos, faz sentido que sejamos nós a adaptarmo-nos. O não dominar a língua chinesa é um grande problema. Também por isto, e para mim, não é bom estarmos focados apenas num mercado. Os trabalhadores sentem falta do reconhecimento dos clientes, que é tão importante para esta indústria.