CONFERÊNCIA DO G20

G20 Summit in HangzhouCONFERÊNCIA DO G20 EM HANGZHOU: UMA MÃO CHEIA DE NADA

E ao mundo nada disseram. A última conferência do G20 na China ficou marcada por um comunicado estéril sobre preocupações reiteradas ao longo destes últimos anos e por encontros à margem, na lógica da defesa de interesses próprios de cada país.

Pareceu mais um encontro de circunstâncias enevoadas por incertezas do que uma reunião, ao mais alto nível, dos responsáveis pelas 20 principais economias mundiais, o que se passou na cidade chinesa de Hangzhou, nos dias 4 e 5 de setembro deste ano. Se o tema da conferência já era lacónico – “Para uma economia mundial inovadora, dinamizada, interligada e inclusiva” –, o comunicado final dos trabalhos não deixou margem para dúvidas, colhendo a indiferença de analistas, observadores e jornalistas face às quatro grandes linhas de ação que foram aprovadas: reforçar a agenda de crescimento do G20; implementar políticas e conceitos inovadores para o crescimento; criar uma economia mundial aberta e garantir que o crescimento económico seja proveitoso para todos os países e povos. Na realidade, a questão dominante que pareceu estar à margem da conferência, mas também sem grandes desenvolvimentos, acabou por ser o clima de incerteza que a União Europeia vive em relação ao seu futuro, questão ainda mais agudizada pelo Brexit. Recorde-se que este foi o primeiro grande encontro internacional de Theresa May, a nova primeiro-ministro britânica sucessora de David Cameron, que aproveitou precisamente a ocasião para manter encontros ao mais alto nível com Barack Obama, Vladimir Putin e o presidente Chinês Xi Jiping. Theresa May, que assumiu o cargo em julho passado, após a consulta popular que ditou a saída da Grã-Bretanha da União Europeia, tem sido muito pressionada para definir de que forma se vai processar o Brexit e o impacto que essa saída terá na relação do seu país com grandes investidores como os Estados Unidos e o Japão.

Isolamento da Alemanha

Alheio a todo este cenário também não parece estar o crescente isolamento internacional da Alemanha em matéria de política económica e financeira, principalmente nos episódios que o ministro das Finanças da chanceler Angela Merkel tem protagonizado contra o Fundo Monetário Internacional. Recorde-se que já em fevereiro deste ano, pouco antes da reunião dos ministros das Finanças e banqueiros centrais do G20 em Xangai, Wolfgang Shaüble veio publicamente manifestar a sua oposição à proposta de estímulos na área da política monetária e orçamental, avançada pelo Fundo Monetário Internacional, cujo documento apelava para que as maiores economias do mundo, proactivamente, identificassem políticas que pudessem ser colocadas rapidamente no terreno se necessário. Mas o documento ia mais longe e identificava um conjunto de recomendações em matéria de política orçamental e monetária com preconizações para a zona euro, países do BRIC, Estados Unidos e Japão, chegando mesmo algumas destas recomendações a visar diretamente o Banco Central Europeu e a própria Alemanha, particularmente em matéria de superavit orçamental.

Conclusões do encontrog20_2016_leaders

Embora dessa reunião tivessem saído algumas conclusões mais focadas, como, por exemplo, a necessidade de consultas prévias sempre que algum membro do G20 decidisse optar pela desvalorização da sua moeda, a verdade é que nenhuma orientação concreta foi aprovada como pretendia o FMI. Aliás, o único rescaldo dos trabalhos foi logo, no imediato, uma forte reação negativa dos mercados financeiros, particularmente na região da Ásia Pacífico, com quase todas as bolsas a fecharem no vermelho. Na realidade e olhando para o que agora se passou em Hangzhou, os analistas reconhecem que o G20 parece estar demasiado refém do desfecho possivelmente catastrófico, até num possível curto prazo, defendem alguns, do futuro da União Europeia, face ao Brexit, à “muralha” que se parece querer erguer nos denominados países do Sul e a uma Alemanha irredutível que se vê ameaçada pela desintegração europeia, pela incapacidade de se expandir economicamente para leste, tamponada pela crise dos refugiados na Síria e no Mediterrâneo, deixando apenas um flanco a descoberto, o Atlântico. Só que essa vocação histórica pertence a outros, nomeadamente a Portugal e até Espanha, que mais facilmente encontrarão apoio nos seus amigos britânicos e americanos. E alguns observadores já deixaram a pergunta no ar: porque é que franceses e alemães estão a dar tanta importância ao episódio Durão Barroso? Será por ele ser português e o Goldman Sachs um banco americano?

Nada de relevante

A verdade é que, quer das últimas reuniões de responsáveis do G20, quer desta 11.ª Cimeira, na China, nada de relevante foi preconizado face aos desafios que, numa escala global, o mundo enfrenta. Aliás, se olharmos para o resto do comunicado da cimeira, ficamos a saber que os dirigentes do G20 chegaram a acordo sobre a necessidade de desenvolver esforços à escala global para dar resposta às causas profundas da crise migratória e aos seus efeitos; que reafirmaram a sua determinação e compromisso em combater o financiamento do terrorismo e foi igualmente realçada a importância da adesão, o mais rápido possível, ao Acordo de Paris sobre as alterações climáticas. Fica para ver o que sairá da 12.ª edição da Cimeira do G20, a ter lugar no próximo ano, na Alemanha.