CASA DE PORTUGAL

“O GOVERNO PORTUGUÊS IGNORA, TANTO QUANTO CONSEGUE, A EXISTÊNCIA DA CASA DE PORTUGAL EM MACAU”

 

Orgulhosa do trabalho que a Casa de Portugal desenvolve junto da comunidade portuguesa em Macau, a sua presidente, Maria Amélia António, revela, em entrevista à FRONTLINE, que a associação foi criada com o objetivo de “juntar os portugueses” e de lhes dar algum “suporte”. Com quase 12 anos de existência, esta instituição pretende continuar a dar a conhecer a cultura portuguesa, os nossos costumes e tradições. Como reconhecimento do trabalho desenvolvido, o governo de Macau atribuiu-lhe recentemente a medalha de Mérito Cultural. No que toca aos apoios por parte do Executivo português, estes têm sido praticamente inexistentes, o que, segundo Maria Amélia António, provoca “mágoa e revolta, uma vez que o nosso país ignora o trabalho dos seus cidadãos que se encontram num ponto tão importante do mundo”.

 

O que é a Casa de Portugal em Macau? Qual o objetivo da sua criação?

A Casa de Portugal em Macau é uma associação sem fins lucrativos, que foi criada com o objetivo de juntar os portugueses aqui na região, para que sintam que esta é uma organização para eles e com a qual se podem identificar, dando-lhes algum suporte. Foi criada em 2001, numa fase ainda de alguma indefinição, de pós-transição. Na altura, correspondeu a uma resposta à ansiedade e angústia das pessoas que não sabiam muito bem como é que as coisas iam evoluir. Posteriormente, a Casa de Portugal veio a ter mais objetivos, que passavam, por exemplo, pela estabilidade das pessoas, em termos de vida em Macau. Como as preocupações se foram diluindo, a Casa foi assumindo, cada vez mais, alguns dos seus outros objetivos, nomeadamente a presença cultural portuguesa em Macau – algo que se dissolveu depois da transição –, uma vez que as entidades que tinham atividade e alguma responsabilidade na parte cultural portuguesa deixaram de funcionar, como foi o caso da Fundação Oriente, ou do IPOR – a quem foi retirada também toda a intervenção cultural (com a alteração estatutária, passou a ser apenas uma escola). Até o poster do 10 de Junho, de que há uma coleção de quase 20 anos, deixou de se fazer.

 

Deixou de se fazer porquê?

Porque ninguém mandava fazer, porque as entidades que desenvolviam essas atividades paralisaram. Não havia qualquer tipo de interesse em estimular ou manter viva a cultura portuguesa aqui. Face a essa situação, a Casa foi assumindo cada vez mais a vertente cultural, garantindo, por um lado, que a comunidade portuguesa continuava a ter acesso a eventos, a música, a todo o mundo da arte, por cá. Por outro lado, tivemos também a preocupação da dar alguma formação e de divulgar a cultura portuguesa e a nossa maneira de estar no mundo.

 

Esta é uma instituição acarinhada pelo Governo português ou, pelo contrário, sente que não tem o apoio devido?

Eu penso que o Governo português ignora, tanto quanto consegue, a existência da Casa de Portugal em Macau.

 

Ainda hoje?

Sim, ainda hoje. A nossa intervenção, atualmente, é diferente ao nível do Consulado, uma vez que este está aqui, vê e conhece o nosso trabalho. Este ano, por exemplo, será a primeira vez que as celebrações do 10 de Junho envolverão o IPOR, o Consulado e a Casa de Portugal. Mas isto deve-se a um certo voluntarismo do nosso cônsul-geral.

 

A Casa de Portugal é um dos pontos de passage obrigatória durante uma visita de Estado?

Quando há uma visita de Estado, normalmente, pomo-nos em “bicos dos pés” e exigimos ser vistos. É frustrante que só consigamos que nos visitem nestes moldes. (…)