AIR FRANCE

AF1924 UM VOO COM HISTÓRIA

 

Um voo da Air France com destino a Lisboa falha duas vezes a aterragem e leva eurodeputado Mário David a questionar a companhia sobre operações de treino a pilotos chineses

 

Dia 19 de março de 2013. O eurodeputado Mário David embarca, em Paris, num voo da Air France com destino a Lisboa, como tem feito centenas de vezes nos últimos anos. Um “voo tranquilo e sem história” até ao momento em que se inicia a aproximação ao Aeroporto da Portela. “Sem qualquer abanão, tudo normal, batemos com as rodas no chão com toda a força e voltámos a levantar”, como assume Mário David à FRONTLINE. Os passageiros endireitam-se nervosamente nas cadeiras e levantam o sobrolho em sinal de preocupação. “Pedimos desculpa, mas um golpe de vento fez-me abortar a aterragem”, anuncia o comandante. Tranquilamente, passados quinze minutos, o avião faz-se novamente à pista, sem sinais de qualquer trepidação, “e desta vez, nem sequer batemos com as rodas no chão…”, conta Mário David. Ouvem-se alguns gritos e “há gente que entra em pânico”. O comandante volta a dizer que “o vento está muito traiçoeiro”, mas que está convencido que dessa vez conseguirá aterrar. “E assim foi, sem qualquer trepidação”, diz o eurodeputado. Tudo seria normal, até porque a operação de “borregar” – o termo técnico utilizado para as aterragens abortadas – acontece algumas vezes devido a fatores externos, como o vento, não fosse Mário David ter olhado para a ficha de voo afixada à saída do avião e percebido que, naquele dia, o voo da Air France trazia a bordo um comandante e três copilotos, dois dos quais “chineses”.

 

Dúvidas no ar

Intrigado, questiona a chefe de cabina sobre esse facto e é surpreendido por uma atitude “estranha”: “arranca o papel da parede e diz que eu não tenho autorização para o ler”. Uma reação que o fez pensar “que algo não batia certo”. E não descansou enquanto não tentou esclarecer o que se teria passado: “Fiz meia dúzia de telefonemas para saber se outros aviões tinham borregado àquela hora em Lisboa. Recebo uma resposta negativa e informação da torre de controlo de que o vento estava a 350 graus, logo no enfiamento da pista, e com velocidade de 10 nós.” Condições ideais, “o que contraria a comunicação do comandante do voo de que se sentia desconfortável com o vento que estava a aparecer”. (…)