PEDRO BALTAZAR

“EM PORTUGAL PRATICA-SE UMA ENDEMICA DEPENDÊNCIA DO ESTADO”

 

Empreendedor e muito confiante, Pedro Baltazar assume-se como um dos empresários portugueses que mais sucesso alcançou. Com participação em várias empresas, a sua aposta recai, em especial, na Nova Expressão, uma agência de comunicação que depois se tornou numa agência de meios. Apostando, sobretudo, em produtos portugueses e acreditando que é necessário libertarmo-nos da “endémica dependência do Estado”, Pedro Baltazar afirma, em entrevista à FRONTLINE, que “os empresários portugueses devem arriscar mais, estar atentos às oportunidades e procurar novos mercados”. Para ele, esta é a fórmula do sucesso.

 

Como surgiu a sua vocação empresarial?

Cresci numa família de classe média, com muitos irmãos, mas onde me foi inculcado o gosto pela leitura e a liberdade para ousar. Cedo comecei a trabalhar para poder pagar as minhas despesas e levar a vida que pretendia. Comecei como comercial, tive oportunidade de viver e trabalhar em Itália e nos Estados Unidos, entretanto fundei a Nova Expressão, que era, no início, uma agência de comunicação e depois evoluiu para uma agência de meios.

 

Atendendo à crise existente, qual a maneira de os empresários portugueses a ultrapassarem?

Em Portugal pratica-se uma endémica dependência do Estado. Falta cultura de empreendedorismo. Joga-se à espera do investimento público e há pouca capacidade de inovar e ousar. Os empresários portugueses devem arriscar mais, estar atentos às oportunidades e procurar novos mercados.

 

Há áreas que podem ser mais exploradas?

Cultura e Turismo são duas áreas vitais para o desenvolvimento de Portugal e para a criação de emprego. Depois, devemos ter bons clusters que, devidamente promovidos com diplomacia económica, podem ser importantes para a nossa economia. Um país sem economia não se consegue desenvolver. Devemos apostar em produtos de qualidade e inovação, tendo em vista o mercado de exportação. Tem havido mais Finanças do que Economia. Há uma altura em que isso tem de acontecer, mas a economia real não pode ser esquecida.

 

É conhecido por ser um empresário que aposta em marcas portuguesas com capacidade de exportação…

É um facto que a holding Nova Expressão SGPS, onde estão integrados os meus investimentos, tem diversas participações em marcas portuguesas e de produtos portugueses. É uma opção minha desde há muitos anos. Julgo que é o contributo que posso diretamente dar à nossa economia. É uma espécie de patriotismo económico. Temos de ter orgulho nas nossas marcas e nos nossos produtos. Já se dizia que o que é “nacional é bom”, logo, os empresários devem estar disponíveis para essa missão, ajudando a economia portuguesa.

 

Daí a sua aposta na INAPA?

Sim, a INAPA é uma empresa interessante, onde detenho uma participação superior a 5% do capital. É uma empresa portuguesa, de grande volume de faturação e de forte componente de exportação. É uma empresa atrativa para os investidores e onde tenho interesse em alargar a minha participação.

 

Mas a base do seu negócio continua a ser a Nova Expressão?

Sem dúvida. O ano passado faturou cerca de 16 milhões de euros e, apesar da crise, espero que cresça para os 17 milhões. É uma agência de meios de referência, com um lastro de grande experiência e profissionalismo, sendo hoje a maior agência portuguesa do setor. Trabalha os diversos campos dos media, dos tradicionais aos novos digitais, com uma equipa muito forte e com uma vocação de proximidade com o cliente.

 

Em tempos de crise, as empresas cortam os seus investimentos em publicidade e comunicação. Não se ressente com isso?

É um facto que há maiores dificuldades por parte dos clientes, mas temos apostado em new business e na criação de diversas novas áreas. Por outro lado, não deixo de dizer que tanto na publicidade como na comunicação há ainda muito trabalho a fazer, explicando as mais-valias da sua atividade. Quando há crise, as empresas têm a tendência de cortar “gorduras” e a primeira coisa que, habitualmente, fazem é cortar na publicidade e na comunicação. Julgo que fazem mal. Uma empresa com menos marketing, publicidade e comunicação pode perder o seu valor de marca, estas áreas não podem ser vistas como gorduras mas sim como investimentos vitais para o posicionamento e valor das marcas. (…)