O ALDRABÃO

“EU PROCURO NO TEATRO A EMOÇÃO DO RISCO QUE NÃO HÁ EM TELEVISÃO”

 

O Teatro Nacional D. Maria II retoma a programação da Sala Garrett com um espetáculo com versão cénica e encenação de João Mota, a partir de uma das obras-primas da dramaturgia ocidental, O Aldrabão (Pseudolus), de Plauto. Com interpretação de Virgílio Castelo, Rui Mendes, João Ricardo, Fernando Gomes, Carlos Vieira de Almeida, Rui Neto, Miguel Costa e Miguel Raposo, este espetáculo é, certamente, uma boa aposta para uma noite diferente.

 

Pseudolus, título original de O Aldrabão, é considerada como uma das melhores comédias de Plauto – sendo para alguns a sua obra-prima – e um dos textos centrais da dramaturgia ocidental. A peça aborda temas como a separação e o reencontro dos apaixonados. Nesta comédia repleta de enganos, mal-entendidos e trocadilhos, a ação tem lugar numa rua de Atenas e centra-se na personagem do escravo Pseudolo, na forma como este engana um proxeneta para lhe roubar uma cortesã amada pelo seu amo, e que estava destinada a um soldado. As suas trapaças, a humilhação dos poderosos e sem escrúpulos servem para enaltecer a personagem, bem como o triunfo dos escravos. O espetador é aqui um parceiro do ator. Tudo lhe é dado, nada é guardado, desde os pensamentos mais secretos aos mais negros. Para Virgílio Castelo, que assume o papel de Pseudolo, este é “o protótipo do homem do povo que tenta resistir aos excessos dos poderosos. É um escravo malicioso, malandreco, imaginativo, que para repor a ordem natural das coisas e o triunfo do bem, não hesita em ser um grande aldrabão”. Quanto ao facto de conseguir trazer novamente as pessoas para o teatro, Virgílio Castelo não tem dúvidas de que este é “claramente um dos setores mais afetados”, mas, na sua opinião, “Portugal tem que conseguir imaginar-se, criticar-se, empolgar-se, para além da conjuntura”. Entusiasmado com este novo trabalho, uma vez que para si é “um voltar ao princípio”, Virgílio Castelo afirma: “procuro no teatro a emoção do risco que não há em televisão”.

 

Uma peça apaixonante

De olhos postos na Comédia Nova ateniense, Plauto voltou, em Roma, ao padrão comum da história de amor numa peça de costumes. A trama é fixa: um par apaixonado tem de vencer as barreiras que se opõem ao seu projeto de vida, até atingir a desejada felicidade, garantida por um happy end obrigatório. Ao serviço de um esquema tão rígido, estão figuras também convencionais: os patrões velhos e austeros pais de família; os jovens apaixonados, a quem sobra em emoções o que lhes falta em determinação e ousadia; os alcoviteiros, proprietários ambiciosos de beldades cobiçadas e de alto preço; os soldados fanfarrões, gente endinheirada por longas campanhas, a quem não faltam recursos para satisfazer paixões e avinagrar a vida de rivais de bolso mais vazio; e sobretudo os escravos, ladinos e atrevidos, fiéis servidores dos seus jovens amos, o mesmo é dizer, inimigos perigosos dos chefes de família; deles sabem extorquir os fundos necessários para promover as bodas felizes dos apaixonados; e ei-los sempre vitoriosos na condução de tramas de amor.