O Optimus Alive regressou ao Passeio Marítimo de Algés e surgiu, este ano, como NOS Alive. Refeitos das caminhadas entre palcos, relembramos o que mais marcou o festival.
Muito calor e um mar de gente marcaram o primeiro dia do NOS Alive, com os Arctic Monkeys a explicar através do rock porque é que foram os principais causadores da lotação esgotada no primeiro dia de festival. Antes deles, muito entusiasmo para os Imagine Dragons, menos para os Interpol e notas positivas para as estreias de Temples e The 1975. Ben Howard abriu o palco NOS ainda o sol ia alto e queimava a pele dos que estavam habituados a um verão tímido. Discreto, o músico trouxe a sua folk simpática, a fazer lembrar passeios de carro num verão nostálgico. O músico e a banda foram conquistando o público já vasto, conseguindo tornar-se mais do que a banda sonora para conversas paralelas e encontros de recém-chegados ao recinto. Para além do público nacional, eram muitos os britânicos (e alguns espanhóis) que demonstravam o seu entusiasmo, especialmente em temas como a balada “Black Flies” ou “Wolves”. A declaração de amor de “Only Love” e a canção antidepressiva “Keep Your Head Up” são os maiores sucessos do músico britânico e foram os mais celebrados, de telemóveis ao alto e abraços de felicidade partilhada. Os The Lumineers atuaram com lustres gigantes a enfeitar o palco e que ilustravam o tom de saloon do faroeste norte-americano que as músicas apresentam. É sabido que grande parte do público queria ouvir “Ho Hey”, e eles, claro, fizeram-lhe a vontade. Se os Arctic Monkeys ocupavam o posto de cabeça de cartaz, os Imagine Dragons eram também responsáveis por uma quota-parte do público que esgotou o primeiro dia do NOS Alive. No palco principal do festival, a banda de Las Vegas mostrou o seu rock mascarado de pop a uma plateia efusiva e recetiva à interação do simpático vocalista Dan Reynolds. “Fallen Tiptoe” foi o primeiro tema, mas foi o seguinte, “Hear Me”, que cativou mais a audiência maioritariamente jovem e feminina que ali se rendia aos Imagine Dragons. Os Arctic Monkeys vieram a Portugal pela segunda vez em menos de um ano, já com o título de banda de estádio bem consolidado. Alex Turner, Matt Helders, Jamie Cook, e Nick O’Malley já não têm o acne juvenil que os caracterizava, agora são senhores de coolness quase displicente, de cabelo e roupa aprumada (exceção feita para Matt Helders, que se mantém fiel às calças de fato de treino), mas conquistam cada vez mais gente a chegar à faixa etária na qual a banda se encontrava quando começou.
Cinco anos depois do primeiro adeus, os The Vicious Five decidiram encerrar um capítulo que se manteve em rascunho desde 2009. A efemeridade das coisas ditava o desfecho que se fez antecipado, mas o regresso aliviou a dor da perda. O Alive foi o primeiro dos três últimos concertos agendados (um com destino incógnito) do retorno da banda onde Quim Albergaria se assume como vocalista arruaceiro. E assumiu isso sem preconceitos. O concerto dos MGMT foi, certamente, um dos melhores, tendo em conta um ponto excecionalmente importante: o alinhamento. “Congratulations”, bonita e decorada, abriu caminho a uma primeira leva de canções leves, que tinham um seguimento não tão fácil: abrir as portas da perceção do psicadelismo. Os The Black Keys deixam-nos uma memória feliz do seu concerto.
Exatamente como aconteceu no NOS Primavera Sound, coube aos You Can’t Win, Charlie Brown a tarefa de abrir o palco NOS. A atuação e o seu efeito foram em tudo semelhantes: se no festival do Porto a banda servia de banda sonora para quem chegava ao recinto com vontade de aproveitar os raros raios de sol, em Lisboa, os YCWCB foram a banda sonora de uma entrada demorada no recinto, de público que já trazia, na sua maioria, dois dias de festival nas pernas. A glória e a melancolia das canções voltaram a encontrar-se no detalhe, e apesar de não deixarem de olhar para o relógio, os YCWCB não se apressaram. Houve espaço para “After December” e “Be My World”, do novo Diffraction/Refraction, ou “I’ve been lost” e “Over The Sun, Under The Water”, do álbum Chromatic. Bastille, a banda de Dan Smith, tinha já grande parte do público conquistado à partida, já que muitos foram os fãs que se dirigiram ao festival propositadamente para os ver. Basta a saudação em português para elevar os decibéis de uma plateia maioritariamente feminina. O trunfo “Bad Blood” é distribuído logo ao início, mas eles tinham mais na manga. A receita dos Bastille é simples: refrões épicos em canções pop-rock ao estilo cântico épico, com Smith a ocupar muitas vezes o papel de percussionista, fazendo uso dos tambores em palco. Os Foster The People tiveram no Alive a estreia em solo nacional, já alguns anos depois do auge com “Pumped Up Kicks”. Pelo palco NOS, a banda conseguiu deixar milhares de pessoas a dançar do princípio ao fim com a sua pop cintilante, servida em voz de um agudo quase infantil e teclados atrevidos.
O som do palco NOS foi, quase sempre, abaixo da qualidade que um festival desta dimensão exige. Em concertos como os de Arctic Monkeys, MGMT ou The Black Keys, faltou poder que sobrepusesse a música às conversas da plateia. Os casos piores foram Ben Howard, que começou o concerto com falhas de som, e ainda The Black Mamba e Bastille. Os primeiros tocaram muito tempo sem que o som chegasse à plateia, e os segundos viram o final do concerto, com “Pompeii”, ser interrompido, também por falha no sistema de som. De salientar que a transição do nome Optimus para NOS Alive foi perfeitamente enquadrada no festival. Destaque para o pórtico de entrada, onde o logótipo da nova marca encaixado na parte de cima do mesmo foi alvo de centenas de fotografias. Os festivais fazem-se, cada vez mais, fora do recinto, e a organização do festival soube bem virar esse facto a seu favor. Para além da parede de “sms” em permanente atualização, e do “selfie spot” à entrada, foi criado um canal exclusivo de transmissão de conteúdos Alive. Hashtags, selfies, posts, andam na boca de toda a gente, fosse por amor ou por ódio, e isto já é mais do que uma novidade, é uma realidade.