HOMENAGEM PERPÉTUA
Composta por mais de 6 mil peças, a coleção Calouste Gulbenkian foi recolhida por Calouste Sarkis Gulbenkian ao longo da sua vida e está dividida em duas áreas: a primeira é dedicada às Artes Orientais e Clássicas, a segunda, à Arte Europeia.
O projeto dos edifícios da sede e museu da Fundação Calouste Gulbenkian resultou de um concurso restrito dirigido pela administração a três equipas de arquitetos, que decorreu entre 1959 e 1960. O caderno de encargos, ambicioso e detalhado, obedecia ao pressuposto de que a nova construção fosse “uma perpétua homenagem à memória de Calouste Gulbenkian, em cujas linhas se adivinhassem os traços fundamentais do seu carácter – espiritualidade concentrada, força criadora e simplicidade de vida”. O projeto deveria, assim, prever a articulação de diversas tipologias de instalações para cumprirem o objetivo de albergar a sede, o museu, os auditórios e a biblioteca da Fundação, com as respetivas estruturas de apoio. O local escolhido foi o Parque de Santa Gertrudes, em Palhavã (localização atual). Das três soluções apresentadas a concurso, foi selecionada a da equipa formada pelos arquitetos Ruy Jervis d’Athouguia, Pedro Cid e Alberto Pessoa, a qual apresentou um projeto que coincidia com os desígnios da encomenda: um conjunto arquitetónico de grande unidade, sóbrio e digno. Neste projeto trabalhou um grande número de especialistas em diversas áreas, coordenados pela equipa vencedora.
Por dentro e por fora
O exterior do museu apresenta-se como um maciço paralelepípedo retangular, onde a utilização do betão aparente e do granito revela um equilíbrio cromático contido. Planificado em função de cada objeto reunido por Calouste Gulbenkian, o edifício possui no piso inferior uma galeria de exposições temporárias, uma loja e uma cafetaria. Neste mesmo piso encontra-se, ainda, a Biblioteca de Arte da Fundação Gulbenkian. Organizado em torno de dois jardins interiores e com inúmeros vãos envidraçados para o exterior, este espaço permite ao visitante um diálogo constante entre a natureza e a arte. Notável exemplo dos novos caminhos da Arquitetura Moderna Portuguesa da década de 1960, o edifício da Fundação Calouste Gulbenkian foi distinguido com o Prémio Valmor, em 1975, e classificado como Monumento Nacional em 2010. A distribuição e a articulação das galerias de exposição permanente estão orientadas por uma sistematização cronológica e geográfica que determinou, dentro de um percurso geral, dois circuitos independentes. O primeiro circuito é dedicado à Arte Oriental e Clássica e evolui através das galerias da Arte Egípcia, Greco-Romana, da Mesopotâmia, do Oriente Islâmico, da Arménia e do Extremo Oriente. O segundo percurso é dedicado à Arte Europeia, com núcleos dedicados à Arte do Livro, à Escultura, Pintura e Artes Decorativas, esta última com especial destaque para a arte francesa do século XVIII e para a obra de René Lalique. Expõe-se neste circuito uma diversidade de peças representativa das variadas manifestações artísticas da Europa, desde o século XI até meados do século XX. A iniciar este setor, destaca-se um conjunto de marfins e de livros manuscritos iluminados, a que se segue uma seleção de Escultura e Pintura dos séculos XV, XVI e XVII. A arte do período do Renascimento produzida na Flandres, França e Itália encontra-se representada na sala seguinte. O século XVIII francês ocupa nas salas do museu um lugar especial com as artes decorativas – destacando-se a ourivesaria e o mobiliário –, a pintura e a escultura. Seguem-se galerias onde pode observar-se um núcleo de pintura de Francesco Guardi, pintura inglesa dos séculos XVIII e XIX, escultura e pintura do século XIX francês e finalmente um importante núcleo de joias e vidros de René Lalique, em sala própria.
O colecionador
A paixão de Calouste Gulbenkian pela arte revela-se cedo, e este colecionador adquiriu uma coleção muito eclética, única no mundo. São hoje mais de 6 mil peças, desde a Antiguidade até ao princípio do século XX. O seu apego às obras que vai adquirindo é tal que as considera suas filhas. A coleção de pintura de Calouste Gulbenkian inclui obras de Bouts, Van der Weyden, Lochner, Cima de Conegliano, Carpaccio, Rubens, Van Dyck, Frans Hals, Rembrandt, Guardi, Gainsborough, Rommney, Lawrence, Fragonard, Corot, Renoir, Nattier, Boucher, Manet, Degas e Monet. De entre os trabalhos de escultura, figura o original em mármore da célebre Diana, de Houdon, que pertenceu a Catarina da Rússia e que Calouste Gulbenkian adquiriu ao Museu Hermitage em 1930. Ao longo dos anos, o espólio do colecionador foi aumentando. Como medida de segurança, a coleção de Paris foi dividida e parte dela foi enviada para Londres. Em 1936, a coleção de arte egípcia foi confiada ao British Museum e os melhores quadros à National Gallery. Mais tarde, em 1948 e 1950, essas mesmas peças foram transferidas para a National Gallery of Art de Washington. Depois da sua morte e após árduas negociações com o governo francês, a coleção completa veio para Portugal em 1960, tendo estado exposta no Palácio dos Marqueses de Pombal (Oeiras) entre 1965 e 1969. Só 14 anos após a morte do ilustre colecionador, o seu último desejo foi concretizado: o Museu Calouste Gulbenkian abriu as portas em Lisboa.