“OS MAIORES TESOUROS DE SANTO ANTÓNIO SÃO AS SUAS GENTES”
Muito ligada à religião e com um amor imenso a Deus, Maria do Rosário Líbano Monteiro apresentou recentemente a sua obra A Igreja de Santo António do Estoril, sua História, seu Património, que pretende ser “uma descrição da vida religiosa de uma comunidade cuja grandeza de coração se exterioriza na arquitetura, na estatuária, na pintura, que são manifestações de amor a Deus e ao próximo”, afirma a autora. Mentora do projeto da Boa Nova, que atualmente inclui duas creches, cinco salas de jardim de infância, centro de dia, serviço de apoio domiciliário, banco alimentar, o CAFAP (Centro de Acompanhamento Familiar e Apoio Parental) e um colégio do 1.º ao 9.º ano, Maria do Rosário Líbano Monteiro já não se encontra ligada ao mesmo desde o início de 2012. No futuro, esta paroquiana dedicada tem como objetivo criar um “projeto de cuidados continuados para o concelho de Cascais”, conclui.
Como descreve o seu livro A Igreja de Santo António do Estoril, sua História, seu Património?
O livro pretende ser a descrição da vida religiosa de uma comunidade cuja grandeza de coração se exterioriza na arquitetura, na estatuária, na pintura, que são manifestações de amor a Deus e ao próximo.
O que a levou a escrever um livro como este? Não existia nada deste género?
Este livro é singular porque é um pouco catequético. Eu não quis apenas descrever o património, mas pôr as pessoas a rezar e a entender os símbolos expressos na arte, bem como dar a conhecer a vida dos santos e o teor dos milagres que estão expressos nos azulejos. É uma homenagem à fé de um povo em marcha.
Necessitou de quanto tempo de pesquisa para o escrever? Onde encontrou material para a sua pesquisa?
Este livro começou a ser escrito em 2003, a pedido do senhor Padre Armindo – prior do Estoril até 2006. Como não tenho muito tempo, fui fazendo pesquisas e estruturando o livro. Começou por ser uma coisa mais pequena, mas à medida que me iam surgindo novos dados interessantes fui aumentando o alcance do mesmo. Em 2007 estava quase pronto para ser publicado quando por razões pessoais o parei. A seguir começou o projeto da Boa Nova que não me deu um minuto de tréguas. Todos os bocadinhos que tinha livres eram para dedicar à família. Em inícios de 2012 – quando saí da Boa Nova – voltei a pegar-lhe por insistência das minhas parceiras de direção. Em setembro de 2012 ficou concluído e desde essa data aguardava a publicação por parte da Câmara Municipal de Cascais. Percebi a certa altura que havia algumas entropias e resolvi publicá-lo eu mesma. A pesquisa vai desde a Torre do Tombo até todos os livros que consegui ler sobre a vida de Santo António, escritos anteriores sobre a igreja e as suas pinturas, entrevistas a antigos paroquianos ligados desde sempre à paróquia, conversas com padres especialistas em Santo António, consultas do arquivo da paróquia, etc.
Na sua opinião como é a Igreja de Santo António do Estoril? Quais são os seus maiores “tesouros”?
Os maiores tesouros são as suas gentes: a comunidade que cresceu e que viveu à sombra das suas paredes, que se empenhou ao longo dos anos para fazer tudo para maior glória de Deus, e ultimamente a que se uniu, sociedade civil incluída, para pôr em pé a obra da Boa Nova.
Atualmente, qual a importância desta igreja para os paroquianos?
A igreja deve procurar ser uma casa onde todos se sintam bem e acolhidos por Deus, em primeiro lugar, e, de seguida, por todos os seus irmãos. Um local de oração privilegiado e refúgio dos aflitos.
Como nasceu a Paróquia de Santo António do Estoril? O que era a Irmandade de Santo António do Estoril? E porque se constituiu?
A Irmandade de Santo António surgiu como uma necessidade de dar corpo administrativo civil – uma espécie de associação – que junto das autoridades pudesse dialogar, no sentido de fomentar a prática religiosa e tentar reaver os bens religiosos que tinham sido confiscados à Igreja, numa época anticlerical como foi a Primeira República. A irmandade foi criada em 1915, a paróquia só foi erigida em 1929. A Paróquia de Santo António surgiu da vontade dos leigos comandados por um padre de uma envergadura e dinamismos excecionais – Monsenhor Moita –, de porem de pé a sua igreja incendiada em 1927.
Na história desta igreja, quais foram os episódios menos bons? E quais os mais positivos?
Os mais positivos são a vontade férrea dos leigos na reconstrução rápida da casa de Deus, movendo o céu e a terra para a sua concretização – em 1755, em 1927 e em 2008. Comunidades vivas de fé inquebrantável. Dos menos bons, não quero falar…
De toda a estatuária existente na igreja, qual a sua preferida? Porquê?
Nossa Senhora da Conceição e Santo António são os meus preferidos. A Nossa Senhora, como protetora e padroeira de Portugal, a Senhora do Sim e que deve ser nosso modelo; Santo António, pela sua história de vida de grande virtude e humildade. Na Igreja da Senhora da Boa Nova há um azulejo do século XVII, ao qual estou particularmente ligada, que representa a ligação da Igreja de Santo António à sua filha – a Boa Nova. Nossa Senhora é representada, tendo por baixo Santo António e a data de 1758, ano da reabertura da Igreja de Santo António após o terramoto.
No que toca à ação social, quais são as instituições ajudadas por esta igreja/paróquia?
A paróquia ajuda sobretudo pessoas, ainda que solidariamente também, no espírito de partilha que caracteriza estas instituições, desse ajuda a muitas outras IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social) e recebesse ajuda de outras tantas.
Pelo que já fez por ela, e ainda mais agora com o lançamento deste livro, considera esta igreja um pouco “sua”?
A igreja nunca é nossa mas sim de Nosso Senhor; nós somos meros servidores dela.
Como surgiu a ideia de criar o projeto da Senhora da Boa Nova?
O projeto da Senhora da Boa Nova remonta a meados dos anos cinquenta. Em 2000, a câmara cedeu um terreno para a construção de um novo centro comunitário e uma nova igreja. Foram-se lançando os alicerces, mas foi só em 2007, com a entrada do padre António Teixeira, que foi possível concretizar o sonho. Em menos de dois anos, e graças ao trabalho desenvolvido, o projeto estava de pé. O padre António conseguiu unir a sociedade civil e todos os paroquianos em torno de um projeto comum: acabar com o Bairro do Fim do Mundo e construir uma estrutura social de apoio àquela população, criando postos de trabalho para muitos.
Quais as valências deste projeto?
O projeto da Senhora da Boa Nova não é mais do que uma extensão do Centro Paroquial do Estoril, que desde 1982 trabalha as valências de idosos, crianças e deficientes – jardim de infância, ATL e centro de dia e, mais tarde, serviço de apoio domiciliário. Como é um centro dinâmico, tem a preocupação de dar resposta às necessidades mais prementes da sua população, e assim foram surgindo a creche, o lar de terceira idade, o banco alimentar, entre outros. Como a procura era imensa, houve que duplicar a oferta, pelo que na Boa Nova surgiram mais duas creches, cinco salas de jardim de infância, centro de dia, serviço de apoio domiciliário, banco alimentar, CAFAP (Centro de Acompanhamento Familiar e Apoio Parental) e um colégio do 1.º ao 9.º ano. Para fazer face aos problemas de desemprego criaram-se várias empresas sociais – que davam emprego a mais de 40 pessoas, para além das 200 pessoas que o Centro empregava.
Na sua opinião, e uma vez que já não está ligada ao mesmo, considera que o projeto da Boa Nova continua a seguir o rumo inicialmente traçado?
Não acompanho o projeto, mas, segundo me informaram, o lar de terceira idade foi entregue a uma empresa privada e as empresas sociais ligadas ao Centro deixaram de existir. As obras de ampliação do colégio e do centro comunitário que estavam em adjudicação, com conclusão prevista para agosto de 2012, não começaram e isso representa um grande prejuízo para as crianças.
Considera que os portugueses dão a devida atenção à religião? Que para muitos de nós este é um campo a que damos pouca atenção?
A religião é uma necessidade básica do homem. Acho que o mal está na forma em que ela é oferecida. Eu tive a sorte de ter grandes mestres que me ensinaram que Deus é AMOR. Quando assim é, sentimos que a vida não tem sentido sem Deus, e é esse o fio condutor que nos leva a tentar ser melhores e a amar o nosso próximo como a nós mesmos.
No futuro podemos esperar outras obras suas? Quais os seus projetos?
Tenho em mãos um projeto de cuidados continuados para o concelho de Cascais. Infelizmente, apesar da grande falta de camas nesta área, não tem sido possível, dadas as limitações orçamentais, celebrar o contrato-programa com a ARSLVT (Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo). O projeto prevê 90 camas – 20 de paliativos, 50 de média duração e 20 de longa duração.