MARGARIDA VILA-NOVA

_EGR5192“EU SOU APAIXONADA POR MACAU!”

Mulher, atriz, mãe e agora empresária, Margarida Vila-Nova considera-se uma mulher “livre, independente e destemida”. O seu gosto pela representação começou de uma forma bastante natural e, talvez por isso, não se recorde do dia em que decidiu ser atriz: “Cresci num universo de artistas, de músicos, de pintores, atores e realizadores e a representação sempre esteve na minha vida.” Não conseguindo reduzir as suas escolhas a uma cidade, a uma profissão ou a uma forma de estar, Margarida quis abraçar novos mundos e rumou até Macau com a sua família. Aí, apostou num novo papel, o de empresária. Abriu a Mercearia Portuguesa e mais tarde a Futura Clássica. Hoje, esta portuguesa está completamente apaixonada por Macau: “Eu faço parte daquele grupo de pessoas que adora Macau.”

 

Quem é Margarida Vila-Nova?

Não tenho muito jeito para falar sobre mim, mas considero-me uma mulher livre, independente, sem limites. Não sei se sou destemida, porque no fundo acho que sou consciente, mas, muitas vezes, não meço o risco ou o quão arrojado pode ser dar determinado passo em detrimento de outro. Para mim é muito redutor uma vida das 09h00 às 17h00, um emprego fixo, um apartamento, contas para pagar, o colégio dos filhos. Tudo isto me parece pouco face ao mundo que existe lá fora, não me refiro a fora de Portugal, mas fora do nosso próprio universo. Eu gosto de viajar, de ler, de conhecer pessoas, gosto de pensar em novos desafios, em novos negócios, em novas aventuras, mas não sei se sou destemida ou corajosa. Sou, sem dúvida, aventureira. Perante ficar, e estagnar, eu prefiro avançar. Prefiro ser levada pela maré do que ser engolida por ela.

Como surgiu o seu gosto pela representação?

Foi algo muito natural, não me lembro do dia em que decidi ser atriz. Os meus pais são produtores, portanto, eu cresci num universo de artistas, de músicos, de pintores, atores e realizadores e a representação sempre esteve na minha vida. Não considero os anos que representei quando era miúda, porque não foi uma decisão consciente, mas quando cheguei à maioridade e percebi que era isto que eu queria para o resto da minha vida, já tinha feito longas-metragens, peças de teatro, séries, telenovelas, foi um processo natural.

Como constrói as suas personagens?

O texto é a base de cada personagem e, a partir do texto, tento construir a personagem completa. Como é que ela pensa, como é que anda, como comunica, qual é a sua natureza, entre outras características. Quando estou a criar uma personagem preciso sempre de ver outros atores a representar, porque me inspiram e é uma forma de me manter alerta. Um bom ator, uma boa cena ou uma boa contracena deixa-nos em estado de alerta para nós próprios.

Que personagem mais a marcou? Porquê?_EGR5125

Acho que é a personagem que ainda está para vir. Não estou a desconsiderar o que fiz para trás, mas é sempre o próximo que me faz avançar. Por exemplo, a Maria Laurinda foi uma personagem extremamente marcante para mim, em televisão, mas também coincidiu com a altura da minha vida em que comecei a fazer personagens de grande dimensão, até lá tinha feito sempre pequenas participações. Este momento foi quando tive liberdade e oportunidade de fazer uma personagem tão completa e tão complexa. Quando interpretei a Julieta do Shakespeare, aos 20 anos, só na última semana de espetáculos é que eu consegui tirar prazer da mesma. Eu sofria tanto a fazer aquele espetáculo, foi muito difícil para mim, achava, todos os dias, que não ia conseguir entrar em cena. Foi uma personagem que me marcou bastante, já que me levou a desafiar as minhas capacidades e a mim própria. Também pela minha idade, na altura, acho que tinha uma ingenuidade que tornou o desafio ainda maior.

Televisão, teatro ou cinema? Porquê?

Eu tenho uma paixão muito grande pelo cinema, mas embora já tenha feito de tudo, o meu percurso está muito mais próximo da televisão do que está do teatro ou do cinema. Acho que os trabalhos só podem ser interessantes se forem feitos com honestidade, com brio, independentemente do meio. A linguagem em televisão, perante o cinema, é mais frágil em termos de argumento, cenários, em termos das próprias personagens, de fotografia, iluminação, então acho mais difícil, por vezes, fazer uma boa personagem em televisão do que em cinema. Por exemplo, o desafio de interpretar bem a personagem da Leonor, em “Mar Salgado”, todos os dias, cinco dias por semana, 12 horas por dia, é muito mais difícil do que trabalhar dois meses para uma longa-metragem. Na minha opinião, é mais difícil fazer bem uma novela do que uma longa-metragem. Sendo o cinema a minha grande paixão, gostaria de fazer um percurso mais próximo do que aquele que fiz até hoje. Mas, para mim, o que faz um bom projeto é uma boa personagem, um bom texto, um bom encenador, um bom realizador. Eu não sou capaz de aceitar nenhum projeto que não me faça acreditar que vou ser feliz a fazê-lo, porque também vivemos de energias e de relações. Se, de algum modo, eu não acreditar no que estou a fazer, vou comprometer o meu trabalho. Desta forma tenho sempre dificuldade em escolher uma coisa em detrimento de outra, porque se formos realmente apaixonados por aquilo que fazemos – e eu sou –, é sempre possível fazer bem qualquer coisa.

Fazer televisão é mais difícil ou mais cansativo do que fazer cinema?

Mais cansativo e também mais difícil, na medida em que se eu fizer uma longa-metragem, sei que vou trabalhar aquelas oito semanas para o filme, vou preparar a protagonista e o filme, e depois termino. Fazer uma protagonista em televisão significa oito meses de trabalho, quando não é mais, e a exigência e a qualidade do meu trabalho estão muito mais comprometidas.

_EGR5170O que a levou a deixar Portugal para ir para Macau?

Não consigo reduzir as minhas escolhas a uma cidade, a uma profissão, é uma forma de estar. Aqui, em Portugal, eu já conhecia de cor a minha rotina, e isso estava a asfixiar-me. Além do mais, senti uma necessidade enorme de me reinventar enquanto atriz. Tinha um contrato de exclusividade que se prolongava há alguns anos e eu tinha vontade de mudar, de fazer novas personagens, de ter novos desafios, novos projetos. Por outro lado, sentia-me esgotada, em termos artísticos, não havia nenhuma personagem, no dia em que fui para Macau, que me fizesse recuar e voltar atrás, porque a vontade de viajar, de conhecer outra cultura, de me reinventar enquanto atriz, mulher, mãe, enquanto ser humano, era muito mais forte. E as viagens fazem isso… Eu não medi esta mudança, para mim estava em Macau como estava em Lisboa, dividia a minha vida entre cá e lá, tanto poderia abrir uma mercearia como representar. Na minha opinião é muito redutor a ideia de só podermos fazer uma coisa na vida, de só termos uma profissão. Se eu acordar de manhã e tiver uma ideia não é por ser muito arriscada que vou deixar de a concretizar.

O que mais a fascina em Macau?

Eu sou apaixonada por Macau! Macau não é para todos, ou se odeia ou se ama, e eu faço parte daquele grupo de pessoas que adora Macau. Foi estranho, mas a primeira vez que pisei o chão daquela terra, senti-me em casa. Devo clarificar que a escolha desta cidade não foi inocente, porque o meu marido já teve lá muitos projetos de realização e por isso já conhecíamos um pouco da região.

Que projetos desenvolveu em Macau?

Tentámos perceber que lojas existiam em Macau dedicadas aos produtos portugueses e chegámos à conclusão de que não havia nenhuma loja vocacionada só para produtos tradicionais portugueses. É verdade que estão lá os vinhos, os queijos, mas não existia nenhuma loja só dedicada ao souvenir, e foi assim que surgiu a Mercearia Portuguesa. A Mercearia Portuguesa passou a ser uma referência como loja de souvenirs portugueses e estamos colocados nas revistas de Hong Kong, Singapura, Taiwan e Tóquio.

O que a fez apostar na Futura Clássica, que comercializa e distribui saboaria portuguesa da Claus Porto e produtos de luxo e beleza?

Com os resultados de vendas da Mercearia Portuguesa, surgiu a distribuidora Futura Clássica. A Claus Porto, uma marca de luxo de saboaria portuguesa – sabonetes, velas, sais de banho, gel de banho –, desafiou-nos para sermos os seus distribuidores em Macau, Hong Kong, Singapura e Taiwan, devido à projeção da Mercearia Portuguesa. Macau passou então a ser a base para exportarmos para outros mercados asiáticos.

Como define os mercados asiáticos?

Não são mercados fáceis para se trabalhar, pois exigem a nossa presença, é um namoro de parte a parte. Existem códigos comerciais diferentes, de confiança, de entendimento, mas esse é também o desafio que temos.

_EGR5202Como têm sido as suas vivências em família, com marido e filhos, em Macau? Há boas escolas, atividades extracurriculares, a nível desportivo e cultural?

É perfeita! Nós optámos pela escola chinesa porque acho que aquilo que posso oferecer aos meus filhos em Macau é uma educação diferente. Se estou a privá-los de crescerem perto dos avós, dos tios, dos primos, então quero que esta passagem por Macau seja uma mais-valia no percurso deles, na sua carreira, e também porque acho estranho viver num país ou numa cidade estrangeira e não falar a língua desse país ou cidade. O ensino chinês é muito diferente do nosso, é tudo lecionado em mandarim, sendo que o que se fala em Macau é o cantonês. É uma escola que se propõe a ser trilingue porque também lecionam o inglês e o português, como línguas estrangeiras. Macau é uma cidade sem criminalidade, é segura, onde temos tempo para ver os nossos filhos crescer. É verdade que a velocidade a que as coisas andam na China é muito rápida e a capacidade de resposta ou é imediata ou às vezes pode comprometer algum negócio, mas podemos gerir o nosso tempo, as nossas vontades, as nossas atividades, as nossas viagens. Viajamos imenso com as crianças, para conhecermos outros países, outras culturas, outras formas de estar.

Que percurso aconselharia a um português que vá passar dois dias a Macau?

O tour pode começar pelo Bairro de São Lázaro, que é o meu bairro, segue-se uma visita à Mercearia Portuguesa e ao Albergue – onde está o restaurante português 1601. Depois aconselho uma visita ao Forte, às Ruínas de São Paulo, ao Senado, e depois um percurso pelas docas até ao Templo de A-má.

Um agradecimento especial ao Bairro Alto Hotel Lisboa