ERA DIGITAL

HUMILDADE NA APRENDIZAGEM A INCRÍVEL CAPACIDADE DE LIDERANÇA NUMA ERA DIGITAL

Podemos continuar a contar com as teorias de liderança que se desenvolveram há várias décadas, muito antes da adoção generalizada da internet? O que torna um líder bem-sucedido, em ambientes empresariais altamente instáveis, como os associados à disrupção digital?

OGlobal Centre for Digital Business Transformation, do IMD, concluiu recentemente um estudo de pesquisa para encontrar as respostas. Surgiram vários atributos que diferenciavam os líderes bem-sucedidos dos menos bem-sucedidos, como a capacidade adaptativa, uma visão clara do futuro e um alto nível de envolvimento com as partes interessadas, internas e externas. Mas nesta pesquisa também apareceu um atributo surpreendente: a humildade. Numa série de entrevistas pessoais com executivos de empresas recentes, as palavras “humilde” e “humildade” surgiram com alguma frequência. Este facto foi posteriormente reafirmado num levantamento feito a mais de 1200 executivos, numa amostra representativa de locais e indústrias. No entanto, esta “humildade” não se referia simplesmente àquela que um “líder humilde” encarna, mas estava relacionada com a aprendizagem ou o conhecimento (vamos chamá-la de “humildade na aprendizagem”). Sobre a humildade em geral, CS Lewis comentou que “a humildade não significa subestimar-se, mas pensar menos em si próprio”. Esta perspetiva pode ser aplicada de uma forma muito útil à “humildade na aprendizagem”. Os líderes que têm sucesso em ambientes instáveis gastam menos tempo a contar com o que já sabem e, proporcionalmente, mais tempo na exploração de novos conceitos e ideias. Por outras palavras, a humildade na aprendizagem não é subestimar o que já se sabe, mas pensar menos sobre esse conhecimento já adquirido.

Mundo em Constante Mudança

Num mundo em constante mudança, é simplesmente impossível para o líder saber todas as respostas ou mesmo ser o mais informado. Estar aberto a novas ideias requer ouvir atentamente os outros, acumulando o máximo de informação possível e não permitir que o conhecimento adquirido ou convicções prévias limitem o seu pensamento. Estudos de psicologia recentes mostram claramente que as pessoas “intelectualmente humildes” são mais capazes de detetar os seus próprios erros, e isso é positivamente correlacionado com a capacidade de diferenciar ideias na memória. Vamos examinar um pouco o mundo real. Se a humildade na aprendizagem é tão importante, nós deveríamos provavelmente apreciá-la nos líderes das principais companhias digitais do mundo. Vamos começar com Sundar Pichai, da Google, o engenheiro hindu responsável pelo Chrome, Android e Google Apps. Caldwell Partners, HuffPost e Times of India descreveram Pichai como uma pessoa humilde. O próprio referiu que a liderança consiste em “… não tentando tanto ter sucesso (você), mas sim certificar-se de que tem uma boa equipa e eliminar os obstáculos para que ela possa ter sucesso no que faz: deixar que outros tenham sucesso”. Para gerir este “monstro” digital, Pichai pede regularmente conselhos às pessoas à sua volta, bem como para a enorme comunidade da Google. Todas as sextas-feiras, Pichai faz uma reunião geral em que responde a questões colocadas por todos os membros da Google. Pichai não está sozinho, Lazlo Bock, ex-vice-presidente de Operações Pessoais, destacou a necessidade da humildade intelectual: “Sem humildade não se pode aprender.” Mark Zuckerberg, do Facebook, segue um programa de aprendizagem pessoal mui- to rigoroso. Recentemente participou no projeto “Year of Travel” 2017, que combina o compromisso de aprender a humildade. Mark participou numa série de reuniões discretas em centros comunitários, escolas e empresas, para conhecer o mundo fora da bolha de Silicon Valley. Em várias ocasiões admitiu erros, como quando aceitou que alguns ativistas de “notícias falsas” se tivessem aproveitado dos bugs nos algoritmos do Facebook. Na Microsoft, Satya Nadella trabalha num escritório saturado de livros. A sua filosofia pessoal é: “Aprende tudo, não sabes tudo.” Aquando da sua ascensão em 2014, foi-lhe reconhecido o mérito de ter rejeitado a organização altamente competitiva e individualista do seu antecessor, promovendo antes uma cultura baseada na escuta, comunicação, aprendizagem e partilha de pontos de vista. Mesmo anteriormente à sua nomeação como CEO, já lhe era reconhecida a humildade como qualidade básica de um líder moderno e dinâmico. A sua ânsia pelo conhecimento é bem notória, como claramente referi- do num email que enviou à empresa em 2014: “basicamente, eu acho que se não aprendermos coisas novas, deixamos de fazer coisas importantes e úteis”. Jeff Bezos, da Amazon, parece ser a exceção que confirma a regra. Tem fama de ser uma pessoa de ideias fixas, até mesmo um pouco arrogante. Mas numa entrevista recente, Andy Jassy, antigo assistente de Bezos e atual chefe da Amazon Web Services, apresentou uma opinião interes- sante sobre o conceito de aprendizagem de Bezos: “a sua capacidade de aprendizagem é incrível, nunca conheci ninguém que aprenda como ele. Refiro-me ao facto de já ter uma base muito boa, mas ainda assim ser aberto e curioso para aprender coisas sobre novas áreas, novos temas e opiniões…”. O próprio Bezos acha que a atitude de acreditar que sabe exatamente para onde está a ir é uma falta de humildade que o impede de inventar.

Outros líderes

Steve Jobs é outro líder cuja imagem pública não era a de uma pessoa humilde. No entanto, tinha a fama de ser um aprendiz insaciável. Um fascinante estudo de 2015, publicado no jornal de Psicologia Aplicada, colocou Jobs como exemplo de que a humildade de um líder poderia compensar muito as suas tendências narcisistas. Resumidamente, além das escolhas e da determinação necessária para administrar as principais empresas tecnológicas do planeta, estes executivos influentes demonstram humildade na aprendizagem. Parece que até mesmo os líderes mais triunfantes estão dispostos a admitir que não sabem todas as respostas e gastam tempo ativamente a tentar aprender. Como Brian Cheskey, da AirBnB, disse, é hora para que todos os líderes “deem um passo atrás e mostrem um pouco de hu- mildade”. Certamente, tal como referiu Hal Gregerson, do Centro de Liderança do MIT, “os melhores CEO aceitam que estão errados, porque quanto mais rápido reconhecem que as suas ideias estão erradas, mais cedo podem repensar as suas perguntas e encontrar as melhores soluções”.

por Michael R. Wade, com Andrew Tarling