“O MEU OBJETIVO NÃO É DESAFIAR O MAR, MAS SIM CUMPRIMENTÁ-LO”
Veio a Portugal para conhecer o, agora famoso, canhão da Nazaré e apaixonou-se pela vila piscatória. Garrett McNamara é hoje um embaixador desta terra que passou a fazer parte da rota do Circuito Mundial de Surf das Ondas Grandes. Reconhecendo o seu talento, a Mercedes-Benz apoiou, desde o início, o projeto do surfista e continua a seu lado, sempre pronta para novos desafios.
Qual o fascínio que a Nazaré exerce sobre si? Como é que descobriu a praia do Norte?
Inicialmente foram as ondas incríveis, mas rapidamente percebi que a Nazaré é o melhor lugar do mundo para se observar de perto as ondas, e de forma segura. Fora de água, descobrem-se pessoas incríveis com uma cultura magnífica. Descobri a praia do Norte quando um amigo me enviou uma foto da mesma, e depois, quando Pedro Pisco, da Câmara Municipal, me convidou para vir conhecer esta vila piscatória pessoalmente.
Para além da praia do Norte, quais são as suas preferidas, no mundo, para a prática das big waves, ou simplesmente para desfrutar?
Gosto de surfar diferentes tipos de ondas grandes em todo o mundo, como em Jaws e Mavericks. Os meus lugares favoritos em Oahu (Havai), onde cresci, são Lani, Sunset Beach e os recifes exteriores.
O que é que a Nazaré tem de tão de especial para si?
Tudo começou pela atração das ondas gigantes, depois a Nazaré tornou-se a nossa casa e é onde está a nossa família.
A praia do Norte é já um ponto de passagem obrigatório no Circuito Mundial das Ondas Grandes?
Desde surfistas, passando pela imprensa, pelos fãs ou pelo público em geral, a curiosidade sobre o que está a acontecer na Nazaré é cada vez maior. Sinto-me orgulhoso, porque o projeto que temos vindo a desenvolver contribuiu para colocar a Nazaré no centro das atenções do mundo do surf. Se alguém ouvir falar sobre as ondas grandes da Nazaré, vai querer, com certeza, vir testemunhar este facto magnífico.
Qual é a sua relação com o mar? Um profundo respeito, ou uma imensa vontade de desafiar a sua força?
Definitivamente um profundo respeito. O meu objetivo não é desafiar o mar, mas sim cumprimentá-lo.
O que é que sente quando está a surfar uma onda gigante? Uma adrenalina indescritível ou um risco muito controlado?
É quando eu me sinto mais confortável e vivo. É mais fácil para mim estar a surfar ondas gigantes do que, por exemplo, estar a responder a estas questões.
O que faz para se inspirar antes de entrar em cena para tentar bater um recorde mundial?
O oceano é a minha principal fonte de inspiração. Depois, claro, a minha mulher, Nicole, é também uma grande inspiração, é como uma extensão de mim mesmo e, sem dúvida, o meu melhor recorde.
Com que idade começou a surfar?
Comecei a surfar aos 11 anos, quando a minha mãe se mudou comigo e com o meu irmão para o Havai.
Como surgiu o gosto pelo surf de big waves?
Nunca pensei que um dia iria surfar ondas com mais de 6 pés, mas um amigo mais velho apresentou-me o equipamento certo e desafiou-me a experimentar ondas gigantes. Tive a melhor sensação de sempre e diverti-me muito. Desde então tenho vivido para poder surfar ondas gigantes.
Ficou surpreendido por ter sido condecorado pela Marinha Portuguesa? O que é que esta condecoração representou para si?
Foi a homenagem mais incrível que eu já recebi e foi definitivamente uma surpresa. Ainda estou a digerir o que isso significou para mim.
Existem várias notícias que apontam para que o seu recorde tenha sido batido. Carlos Burle surfou realmente, este ano, uma onda maior do que 30 metros?
Medir ondas é algo muito complicado e sinto-me aliviado por não ser esse o meu trabalho. Eu pratico surf porque essa é a minha paixão e não o faço para que tal fique registado ou exista alguém a controlar o que faço.
As ondas surfadas por Carlos Burle eram muito semelhantes às que me deram o recorde, agora… é muito difícil perceber se eram maiores ou menores.
Episódios como o que aconteceu com Maya Gabeiro podem pôr em causa este tipo de surf? Os praticantes colocam realmente a sua vida em risco?
Conduzir um automóvel apresenta riscos, e mesmo que se tenha escolhido o melhor modelo em termos de segurança e se conduza com o cinto de segurança colocado, é normal que se corram riscos. Com o surf é exatamente a mesma coisa: nós preparamos o nosso equipamento, temos a certeza de que estamos em segurança, mas corremos sempre riscos.
Como se pode garantir que um atleta está preparado para enfrentar tais condições extremas?
Devemos preparar-nos mental, física e espiritualmente. Temos de organizar o nosso equipamento e a nossa equipa de segurança e devemos passar muitas horas simplesmente a estudar o oceano.
Este é o terceiro e último ano do Zon North Canyon Show. Que balanço faz? O que é que mudou?
São muitas as alterações desde o primeiro ano, nomeadamente o facto de nessa altura não haver ninguém na Nazaré. Atualmente, os restaurantes e as lojas estão cheios de gente e esta é uma vila que está viva. Estamos muito felizes por ter tido a oportunidade de dar a conhecer a Nazaré ao mundo.
Podem existir futuros campeões entre os surfistas portugueses?
Qualquer um pode ser campeão, se for esse o seu objetivo.
Que conselhos daria aos jovens surfistas que querem tentar aventurar-se nas ondas grandes da praia do Norte?
É necessário que encontrem um mentor que os possa ajudar. Segundo dizem, é necessário treinar quatro horas todos os dias, durante 10 anos.