VIAJAR NO TEMPO
Um comboio presidencial restaurado, a cozinha do Vila Joya e a paisagem do Douro foram os ingredientes principais de uma série de dez viagens, entre Porto e Pinhão, com almoço incluído, que já terminaram mas que foram um verdadeiro sucesso.
A viagem tinha início na estação de São Bento, no Porto. Guias do Museu Ferroviário do Entroncamento (onde o comboio costuma estar em exposição) aguardavam para encaminhar os viajantes para os lugares dentro das carruagens, que foram adaptadas ao evento com o mínimo de intervenção possível. O antigo Comboio Presidencial é um exemplar único, cuja obra de restauro foi, segundo Maria José Teixeira, gestora de projeto do Museu Ferroviário, “a maior da Europa a nível ferroviário”. A composição esteve ao serviço da República entre 1910 e 1970 e servia para transportar comitivas oficiais. Incluía um vagão-cozinha, uma carruagem-restaurante e salões separados para o chefe de Estado, os ministros, seguranças e, finalmente, jornalistas. O restaurante, que já era utilizado durante a vida da composição, não precisou de retoques e foi neste espaço que foi servida grande parte das refeições preparadas pelo chef Dieter Koschina do Vila Joya, no Algarve – detentor de duas estrelas Michelin – e harmonizadas com vinhos da Niepoort. Tudo foi pensado ao pormenor para que esta viagem fosse realmente inesquecível. A música foi cuidadosamente selecionada pela Casa da Música. Os livros foram selecionados pela Fundação de Serralves e a louça era da Vista Alegre. Esta viagem inesquecível pelo tempo tinha um custo de 350 euros. Se ficou interessado saiba que pode reservar já o seu lugar, para a edição de outono. Mais informações no site oficial www.thepresidentialtrain.com.
Uma ementa notável
A ementa Vila Joya elaborada pelo chef Dieter Koschina contemplava como entrada Hiramassa Peixe Rei, com couve-flor, gengibre e soja; para prato de peixe, a escolha recaiu sobre lavagante Tristão (pescado na ilha de Tristão da Cunha, situada entre a América do Sul e África) com manga, papaia e molho de caril; já a carne era bochecha de porco ibérico, com cevada, chouriço e gamba. Para a sobremesa, nada melhor do que creme de açafrão, com pistácio e laranja sanguínea. Para terminar, café ou chá Kukicha.
Um comboio especial
Por fora, o seu azul está novamente brilhante e reluzente. Por dentro, as carruagens têm alcatifa no chão, os bancos são espaçosos e confortáveis e os pormenores antigos são os que mais chamam a atenção: as fitas de cabedal para segurar bancos, as janelas, as madeiras, o autoclismo. Os cinzeiros de antigamente ainda lá estão, assim como ventoinhas antigas, as portas estanques de madeira e os sofás verdes de veludo. Tudo recuperado. Depois destas viagens pelo Douro, o Comboio Presidencial pode ser visitado no Museu Nacional Ferroviário na cidade do Entroncamento. É datado da segunda metade do século XIX, altura em que se criavam estas carruagens designadas por “trens reais”, ou seja, composições preparadas para o uso dos reis e imperadores.