Oitocentos mil desempregados, crédito bancário mais caro, casas devolvidas aos bancos, consumo a descer, impostos a subir. Um ano depois da troika e da tomada de posse de Passos, Portugal ainda está longe dos objetivos.
A 5 de abril de 2011, de gravata azul e olhar carregado, José Sócrates, primeiro-ministro de um Portugal na corda bamba da crise, anunciava ao país o que andava a evitar há já alguns meses: “O Governo decidiu hoje dirigir à Comissão Europeia um pedido de assistência financeira.” A frase fez desmoronar o baralho de cartas em que a economia lusa se encontrava e levou a reboque o Executivo PS e Sócrates. Umas semanas depois, a chamada troika, composta por elementos do FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu (BCE), chegava a Portugal e o Governo socialista demissionário assinava um memorando de entendimento com regras duras para a economia e para os portugueses. Passos Coelho, líder do PSD, e Paulo Portas, do CDS, juntavam as suas assinaturas ao documento e meses depois passavam a ser obrigados a seguir a cartilha nele contida quando assumiram o Governo, em junho, numa coligação forte que tem funcionado praticamente sem quezílias visíveis.Um ano depois de tudo isto, os portugueses interiorizaram na sua vida uma única palavra: austeridade. Ela tem sido sinónimo de mais impostos, menos consumo, mais desemprego, menos salários, mais contestação, menos segurança no emprego, mais gastos com saúde e com educação, menos crédito e menos apoios sociais. A dívida, essa, continua a não dar grandes sinais de abrandamento e o objetivo do défice de 4,5% para 2013, que o Governo garantia ser possível com todos os cortes e medidas que tomou no Orçamento do Estado para 2012, afinal está longe de estar controlado e os últimos dados da execução orçamental apontam para uma meta cada vez mais difícil de alcançar. Quando os partidos assinaram o programa de ajustamento, ninguém disse que o futuro ia ser fácil. Mas para os 800 mil desempregados que estão na rua em busca de trabalho, era difícil imaginar que ele fosse tão negro. Para 2013, as previsões já apontam para uma taxa desemprego a rondar os 13% e o facto de ele atingir cada vez mais os jovens e os licenciados é outro dos dados mais assustadores do retrato deste Portugal ao fim de um ano de ajustamento. (…)