TAILÂNDIA

DSC_0792“A Tailândia deve ser vista pelos investidores como uma porta de entrada para os países vizinhos”

 Com uma relação que dura há mais de 500 anos, Portugal e Tailândia estão ligados pela amizade. Para Francisco Vaz Patto, o embaixador de Portugal na Tailândia, é “impressionante” a forma como os tailandeses “olham para os portugueses e para Portugal” como amigos. Empenhado em fazer da Tailândia um mercado importante para os investidores portugueses, o embaixador destaca como um dos seus objetivos principais “abrir portas de forma a atrair cada vez mais portugueses”, uma vez que, na sua opinião, este é um mercado “que pode ter retornos muito elevados”.

 

Portugal e a Tailândia conhecem-se há mais de 500 anos, como define a relação entre os dois países?

Esta é uma relação muito próxima, mas também muito longínqua, que o tempo afastou. Nós fomos os primeiros europeus a chegar aqui, os primeiros a assinar um tratado de amizade, os primeiros a estabelecer relações diplomáticas, os primeiros a construir uma embaixada com grandes relações comerciais há 505 anos atrás, que se mantiveram fortes até ao século XIX. Depois diminuíram e hoje em dia não existe uma relação muito forte, quer pela distância, quer pelo facto de o mercado tailandês ter passado a ser desconhecido para os nossos investidores. Do lado tailandês manteve-se a proximidade no coração, e agora os tailandeses redescobriram o nosso mercado e começaram eles a investir em Portugal. É impressionante a forma como olham para os portugueses e para Portugal, como nos sentem como amigos e como o povo mais próximo da Europa. E espero que os portugueses também percebam – o meu trabalho também é esse – o quanto o mercado tailandês é importante, com quase 80 milhões de consumidores, em grande pujança, que a crise também afetou, mas que continua a crescer a um ritmo que não é o mesmo dos países vizinhos – não chega a 3%, podendo ultrapassar este ano – mas que é um ritmo elevado, se olharmos para as taxas de crescimento dos países na Europa. A Tailândia deve ser vista pelos investidores como uma porta de entrada para os países vizinhos.

A verdade é que os portugueses nunca colonizaram este povo…

Quando chegámos a esta região do mundo, é verdade que conquistámos Malaca e ocupámos a cidade, antes tínhamos conquistado Goa… Mas relativamente à Tailândia – Sião, nessa altura –, nós não conquistámos, nós fomos um povo que eles classificaram como comerciante, amigo, que trouxe as armas e vendeu as espingardas.

Portugal identifica este reconhecimento que a Tailândia tem pelo nosso país?DSC_0791

Infelizmente, acho que é mais forte na Tailândia do que em Portugal e gostava que pudéssemos estar mais despertos para este facto, que é efetivamente uma relação histórica. Para os tailandeses nós estamos muito próximos, e quando aqui cheguei pude sentir isso. Contudo, da parte dos investidores portugueses, não reconheço o mesmo interesse. Este é um mercado importante que pode ter retornos muito elevados.

O povo tailandês é um povo fácil para negociar?

Quem é que é fácil para fazer negócio? Acho que este não é um mercado demasiado complicado para negociar, tem as suas regras, que são diferentes das ocidentais, tem costumes que aqui são muito fortes, mas não é impossível fazer negócio, e qualquer português vai perceber isso se cá vier.

É notória a influência portuguesa na cultura tailandesa? Em que aspetos?

Começa desde logo na comida, mais propriamente nas sobremesas. Aqui, as sobremesas são muito diferentes do resto do Sudeste Asiático, e uma das grandes diferenças é a influência dos ovos – ovos-moles e fios de ovos. Também na cultura existem várias palavras tailandesas de influência portuguesa.

DSC_0832Estar à frente da mais antiga representação diplomática portuguesa no mundo é uma honra, ou é um cargo complicado?

Primeiro de tudo é uma honra, mas também não é simples. A embaixada não trata só da Tailândia, eu estou acreditado em todos os países vizinhos, como: Myanmar, Camboja, Laos, Vietnam, Malásia. É difícil, principalmente num país que sofreu um golpe de Estado há dois anos, mas que, atualmente, está estável e avança a caminho do regresso à democracia. Esperamos que haja eleições no próximo ano, que já estão marcadas.

Quais são as principais ações desenvolvidas pela Embaixada de Portugal?

Essencialmente na parte cultural, temos um programa que vamos desenvolvendo. Temos poucos fundos e um orçamento pequeno, mas mesmo assim vamos organizando vários eventos culturais também com a ajuda de patrocinadores. Na área cultural temos, para além do ensino do Português nas faculdades de Banguecoque, exposições e festivais (de curtas-metragens portuguesas). No inverno teremos cá um realizador português de cinema para um festival, que fará uma retrospetiva da sua carreira. Estamos ainda a tentar trazer o pianista Adriano Jordão em outubro, e o Vhils, mas para isso precisamos de apoio.

Na parte económica e financeira, neste momento, o nosso papel é apoiar os investidores portugueses, que infelizmente não são muitos. Vamos tentar abrir portas e contactos, de forma a atrair cada vez mais portugueses.

Sente de Portugal o apoio que esta embaixada merece?CIMG8661

Sim, sinto. Também tenho que pensar que numa altura destas não podemos ter tudo e as outras embaixadas também precisam de apoio.

Que marca quer deixar nesta sua passagem pela Tailândia e mais concretamente nesta embaixada?

Se eu conseguisse, pelo menos, colocar no coração dos portugueses que estão em Portugal um pouco mais do que é a Tailândia, ficava satisfeito. Mas, para mim, o meu trabalho essencial é colocar no coração dos tailandeses o que é o Portugal moderno.

Se tivesse que definir a Tailândia numa só palavra o que dizia?

A primeira que me vem à cabeça é “amizade”.