MUSEUS DO TERREIRO DO PAÇO

(RE)PENSAR A IDENTIDADE PORTUGUESA

Nos últimos tempos, tem-se discutido acaloradamente a remodelação do desenho do pavimento do Terreiro do Paço. Não venho aqui defender a proposta recentemente avançada, que me parece obviamente dependente do célebre desenho de Miguel Ângelo para a Praça do Capitólio em Roma (e, como quase todos os derivados, muito desinteressante), mas reclamar a abertura de uma outra discussão na sociedade civil, a meu ver muito mais decisiva: a do destino a dar aos edifícios circundantes.

 

Ninguém parece preocupar-se com que a praça mais nobre da cidade de Lisboa, ou mesmo de Portugal, tenha um uso tão pobre social ou culturalmente falando, talvez porque nos habituámos a identificá-la como a Cabeça do Poder e talvez até achemos natural que o andar nobre seja ocupado por gabinetes e repartições e que os claustros e arcadas do rés-do-chão sejam parques de estacionamento dos carros dos governantes e dos seus assessores. Por outro lado, também ninguém parece perceber que a tão reclamada “recuperação” da Baixa Pombalina passa obrigatoriamente por um novo uso, indiscutivelmente cultural e de elevado significado, para a Praça do Comércio. Manda a justiça que aqui se refira que o primeiro a sugerir a saída dos ministérios para, no seu lugar, serem instalados museus foi o antigo presidente da Câmara Municipal de Lisboa e depois efémero primeiro-ministro Pedro Santana Lopes, mas é também importante recordar que, uma vez no poder, não consta que tivesse implementado quaisquer medidas tendentes a concretizar essa intenção. Por outro lado, Santana Lopes insistia num sempre muito mal definido Museu dos Descobrimentos, ideia que outros, mais recentemente, recuperaram. Mas ninguém ousa dizer como se põe de pé tal ideia, com que colecções, com que estratégias expositivas, pelo que me parece, uma vez mais, que estamos perante uma ideia que não passa de uma má bandeira. Tivemos em funcionamento, durante quase duas décadas, uma excelente Comissão dos Descobrimentos que, se esse fosse um projecto exequível, não teria deixado de avançar conteúdos e meios. O grande Museu dos Descobrimentos já existe, será o Museu de Marinha, se for cientificamente reprogramado e adaptado às exigências de comunicação do nosso tempo.

 

Ocupação dos edifícios

Não sei se os leitores têm estado atentos, mas, de vez em quando, surgem algumas notícias deveras preocupantes sobre o modo como se tem vindo a decidir sobre a ocupação dos edifícios da praça: o Ministério da Administração Interna vai sair da Ala Norte, para aí ser instalada uma unidade hoteleira de 70 quartos, mas continuando a ocupar espaços noutra ala. Ou ainda: a Sociedade da Frente Ribeirinha está a pensar instalar lojas de griffes sob as arcadas da praça. Pergunto: e onde se instalam as áreas de armazenamento das ditas lojas? (…)