Portugal e Tailândia têm uma relação ímpar que se perpetua nos anais da história euro-asiática. Desta ligação resultou uma aliança frutífera para ambas as nações e uma amizade que dura há já cinco séculos. Este é um legado vivo de memórias, afectos e tradições, expresso em domínios tão diversos como vocabulário, gastronomia, património arquitectónico ou ainda nas famílias tailandesas de origem lusa. Em entrevista à FRONTLINE, o embaixador Faria Maya fala desta ligação entre Portugal e Tailândia e do seu trabalho enquanto diplomata português na mais antiga representação nacional no mundo.
Portugal e Tailândia conheceram-se há quase 500 anos. Como define a relação entre estes dois países?
É uma relação que, para além da sua antiguidade, que já de si é significativa, ultrapassou esse interesse estratégico imediato de colonização e constituiu uma aliança duradoura, de carácter político, militar e comercial. De destacar o facto de ter iniciado um legado humano muito rico.
O que é que significou, há 500 anos atrás, para o reino do Sião, o contacto com uma potência europeia?
Foi muito importante o facto de os portugueses terem sido o primeiro povo com quem os siameses tiveram contacto. Mas também foi importante a relação com Portugal, sem qualquer conotação ou propósito colonial, contrariamente ao que aconteceu com outras potências.
Nesse tempo, o que é que Portugal tinha para oferecer à Tailândia a nível cultural, económico e social?
A nível cultural, a partir da primeira metade do século XIV, seriam os vários conhecimentos que a cultura e as ciências europeias poderiam proporcionar, bem como os instrumentos científicos, a cartografia, a língua portuguesa – talvez este tivesse sido o maior legado que aqui deixámos.
E actualmente?
Falando com a maior franqueza, o que temos oferecido é o que podemos e o que devemos. Há um vastíssimo campo de oportunidades na perspectiva económica, quer no âmbito comercial, quer dos investimentos directos estrangeiros, quer na formação de consórcios e joint-ventures. Há áreas em que a Tailândia tem demonstrado interesse em aproveitar a tecnologia portuguesa, e uma delas é a área das energias renováveis: a energia eólica, fotovoltaica, por exemplo. No domínio cultural, há um interesse, cada vez maior, na língua portuguesa, no fomento das relações com o Brasil, mas também no lançamento da política externa, nomeadamente nas relações com África, mais propriamente com Angola e Moçambique. (…)