A FRONTLINE voltou a falar com Francisco Nogueira de Sousa, profissional com um notável percurso assente numa vasta experiência em várias áreas do setor da hotelaria. Tendo dedicado 14 anos da sua vida à cadeia internacional Starwood Hotels & Resorts, conta, no decorrer da sua carreira, com reconhecidos sucessos ao longo dos diferentes projetos que abraça. Após uma história de êxitos a trabalhar por conta de outrem, Francisco Nogueira de Sousa decidiu empreender no seu próprio sonho e inovar na forma de pensar o turismo nacional. Nasceu assim a Blue Shift. Surge-nos agora a oportunidade de saber mais sobre este projeto, criado a partir daquela que Francisco Nogueira de Sousa apelida de “atitude Blue Shift”.
Na última entrevista falou-nos do seu percurso profissional. Poderia resumir-nos alguns momentos que considera fundamentais para hoje ser o fundador da Blue Shift?
Tendo iniciado o meu percurso profissional no Sheraton Algarve, assumi, pela primeira vez, a liderança de uma equipa ao tornar-me diretor Comercial e de Marketing, aos 25 anos de idade, no Hotel Mencey. Após a passagem pelo Westin La Quinta e Sheraton Algarve, com a mesma função, fui convidado para integrar um projeto da Luxury Collection, enquanto diretor-geral. Ainda na Starwood, assumi funções em áreas distintas, tais como a Direção Regional de Comunicação da Starwood, para a área da Península Ibérica, a Direção de Operações do Sheraton Lisboa, aquando da reabertura da unidade, e, posteriormente, com esta mesma função, regressei ao Sheraton Algarve. O background adquirido nas várias áreas, a nível da gestão de topo, permitiu-me ganhar maior sensibilidade à relevância de cada uma delas na operação das unidades. Ao integrar as diversas equipas, ainda que no interior da mesma estrutura profissionalizada e estandardizada, como a Starwood, foi-me também possível apreender diferentes abordagens e ferramentas de trabalho personalizadas por cada equipa. A componente teórica das áreas pelas quais o meu percurso foi sendo construído foi determinante para a forma como a Blue Shift encara hoje os seus desafios. Entre outras, poderei destacar as formações em Six Sigma ou em Blue Ocean, lecionada pela INSEAD, que marca a nossa origem e métodos de trabalho. Foi ainda a experiência tida na realidade de grupos nacionais, nomeadamente no Martinhal Resort e Hotéis Real, que me permitiu adquirir um conhecimento profundo da realidade nacional e das suas condicionantes intrínsecas. Mais do que os produtos ou os talentos que fui encontrando ao longo destes últimos anos, foi a adaptação a novas realidades, sem o suporte de uma estrutura internacional e profissionalizada como a Starwood, que me permitiu entender as características de sucesso que foram sendo comuns no meu percurso e que me fazem hoje acreditar que podemos repeti-lo em todos os projetos futuros.
Como descreve o processo de criação da Blue Shift e porquê agora?
Ao integrar diferentes projetos e na análise do panorama económico internacional, constatámos que as empresas hoteleiras têm, neste momento, enormes desafios ao nível de rentabilidade, sustentabilidade económica e valorização de ativos. As soluções que propomos pretendem dar resposta às necessidades anteriormente evidenciadas através do verdadeiro envolvimento e responsabilização por todo o processo, desenvolvendo o adequado posicionamento e diferenciação de produto. O nosso processo de operacionalização visa diversas etapas de intervenção e conta com profissionais especializados nas diferentes áreas de atuação, que intervêm consoante cada uma das fases. Dos vários projetos conduzidos no passado, há um que marca pela forma surpreendente com que atingiu resultados positivos num curto espaço de tempo. Foi o “despertar” para que pudesse entender o impacto que alguns dos principais indicadores de gestão, pelos quais me rejo, têm nos resultados de um hotel. Nem sempre as grandes mudanças ou reestruturações requerem alterações profundas de produto ou promoção, baseadas em investimentos avultados, e este foi um caso em que os resultados o demonstram. O processo de reposicionamento e mudança cultural foi conduzido pelas pessoas que encontrei na respetiva unidade e demonstrou, não só às equipas que foram agentes de mudança mas também ao setor, que um elevado crescimento é possível num reduzido espaço de tempo. Atendendo às evidências de que aumentar a rentabilidade, sustentabilidade económica e valorização de ativos são necessidades do turismo nacional e com a prova de que é possível a reversão de situações ditas “impossíveis”, tornou-se fundamental a criação desta empresa para complementar a oferta atual do mercado.
O turismo, em Portugal, possui um elevado número de empresas que se dedicam à auditoria e/ou consultadoria. Contudo, a Blue Shift afirma-se como um produto inovador. De que forma espera disponibilizar algo que o mercado não possa já oferecer?
Com a sua origem diretamente ligada à estratégia de negócio Blue Ocean, a Blue Shift não pretende concorrer com o mercado atual. Trabalha em parceria com ele para ser a solução, como agente da mudança. Numa altura em que as necessidades dos proprietários, bancos e fundos são muito diferentes da realidade até aqui conhecida, é fundamental que as soluções passem por dar uma resposta sólida que permita romper com o passado de alguns hotéis em Portugal. A nossa empresa distingue-se pela complementaridade aos serviços já oferecidos no mercado. Esta não é uma empresa consultora ou auditora. Vai mais além, delineando estratégias futuras, oferecendo uma plena integração na cadeia de valor de cada um dos negócios que abraça, definindo e implementando soluções individualizadas para cada uma das situações com que se depara.
Qual a “atitude Blue Shift” a que se refere?
A atitude Blue Shift espelha aquele que é o drive que se faz sentir na empresa. Uma atitude ativa e positiva, comfunções individualizadas, com um elevado grau de autonomia que se reflete numa enorme responsabilização de cada colaborador para que os objetivos propostos se concretizem. Todos fazem parte do processo de decisão e é fundamental que se sintam como parte da solução. Esta é a abordagem que a empresa procura introduzir nos seus projetos. Uma atitude apreendida por aqueles que são, para mim, elementos de referência, como o meu pai, José Nogueira de Sousa, do qual poderei evidenciar a postura profissional, maneira de estar perante os momentos cruciais de decisão, ética e respeito por qualquer colaborador, e o senior vice-presidente da Starwood para o Médio Oriente, Guido de Wilde, pelo rigor, know-how e ambição.
Quando se refere a repensar o turismo, de que forma espera que a Blue Shift seja um agente de mudança?
Nos dias que correm, assiste-se a um momento fundamental na alteração do turismo nacional. A passagem da gestão das infraestruturas de alojamento para fundos de investimento ou outras formas de investimento cria uma exigência de gestão por parte de profissionais orientados para resultados e rentabilidade. As novas formas de gestão acarretam o repensar da indústria, conduzindo à diferenciação de produtos e profissionalização do setor. Apesar do território e produtos oferecidos em Portugal serem assumidamente distintos, a oferta hoteleira carece de diferenciação. Contudo, existem inúmeras iniciativas por parte das entidades oficiais que poderão ser potenciadas por forma a alavancar o turismo nacional. A Blue Shift procura, desta forma, ser um agente catalisador na formação de profissionais no setor, proporcionando a evolução e desenvolvimento das capacidades de cada indivíduo que participa nestes projetos. Acreditamos que, ao permitir o desenvolvimento individual e ao respeitarmos o background de cada um, é possível desenvolver soluções e ferramentas com maior valor pela diversidade de inputs que apresenta. Analisando o panorama de segmentação do setor, é possível verificar que existem players com reconhecido valor nas diferentes áreas de atuação. Por este motivo, a Blue Shift tenciona dar um elevado enfoque na criação de sinergias e parcerias, traduzindo-se em situações win-win. A abordagem da Blue Shift alinha-se, desta forma, numa ótica de 360º, cobrindo áreas que poderão ser entendidas como: auditoria e consultadoria, gestão hoteleira, apresentando soluções para todos os serviços de apoio inerentes à operacionalização de hotéis e resorts. Acreditamos que este é o caminho para que se constitua enquanto agente impulsionador da reformulação do setor, em Portugal.
Refere que o grande foco dos proprietários incide, cada vez mais, na rentabilidade e resultados financeiros. Não teme que esta abordagem venha a deteriorar o charme tradicional da hotelaria?
O objetivo de um excelente profissional hoteleiro incide sempre em proporcionar momentos memoráveis aos hóspedes e este é o propósito final da Blue Shift. Ainda que estejamos empenhados na concretização de objetivos financeiros, estes não poderão ser alcançados se não tivermos um produto com serviço adequado às expectativas de quem escolhe determinada unidade. Assim, apostamos na simbiose perfeita, à semelhança do que já fora realizado noutras unidades, entre a redução de custos e o aumento de receita, acompanhados pelo crescimento do índice de satisfação dos nossos hóspedes. As soluções passam por repensar o produto e oferecer não o que é “tradicionalmente” oferecido por todos os hotéis, mas sim oferecer o que os clientes valorizam e estão dispostos a pagar. Também a centralização de serviços de apoio, como as compras, reservas ou de housekeeping, poderá ser apresentada a determinados projetos. Por outro lado, o aumento de receita carece de uma estrutura comercial e de marketing, que nem sempre poderá ser suportada por pequenas unidades, pelo que a sua centralização aumenta, entre outros fatores, a maximização de canais de venda através do aumento de exposição nos mercados nacional e internacionais.
A Blue Shift assume-se como solução de 360º e em simultâneo refere que a diferenciação é fundamental. De que forma vê a ligação de dois conceitos que, à partida, se apresentam como antagónicos?
Pretendemos ser solução a 360º no interior da organização que nos procura para a concretização de resultados financeiros e operacionais positivos. É fundamental entender o alinhamento estratégico do cliente para cada produto. Dessa forma a Blue Shift procura explorar a todos os níveis de cada uma das áreas de intervenção, desde a gestão à operacionalização, para que possam ser implementados os processos, ferramentas e procedimentos necessários. No entanto, cada projeto a que a empresa se entrega terá a sua própria solução, com os parceiros e colaboradores adequados à situação. O processo de diferenciação da oferta é exigente, obrigando a uma alteração de estratégia comercial, marketing e produto. O seu sucesso só é possível quando suportado pelos seus principais intervenientes, internos e externos, obrigando a garantir que os novos conceitos são entendidos e se refletem em todas as áreas de atuação. As mudanças são, geralmente, acompanhadas por alguma renitência por parte dos envolvidos. Contudo, e baseado na atitude Blue Shift, é possível vencer esta inércia, assegurando-se a eficaz gestão de recursos humanos, coordenação das áreas financeira, operacional e serviços de apoio, logo desde o momento inicial de atuação. Cada uma das fases é caracterizada pela intervenção de profissionais cujas competências se ajustam às necessidades de cada um dos momentos. O fator diferenciador na gestão de competências existentes na organização baseia-se no estabelecimento de parcerias com empresas de valor reconhecido no mercado, especializadas nas diferentes dimensões do negócio, como: marcas hoteleiras, marketing, imobiliário, entre outras.
Um dos projetos que conta com a vossa intervenção é o CampoReal Resort. Quais os objetivos para este resort?
Este é um caso verdadeiramente aliciante na medida em que é um projeto âncora para a região do Oeste, e, com intervenção da Blue Shift, assistiu-se a uma reabertura em tempo recorde, após o término de um processo negativo muito recente. Novamente, esta que aparenta ser uma situação irreversível, apresenta-se, para a Blue Shift como uma oportunidade para fazer história na hotelaria nacional. Com a total entrega por parte da equipa, que tem sido a todos os níveis fantástica, o estabelecimento de parcerias com os elementos apropriados, no qual destaco o presidente da Região de Turismo Oeste, António Carneiro, e com uma extraordinária orientação por parte do fundo de investimento turístico proprietário, foi possível garantir o renascimento deste resort em menos de dois meses. As ações adotadas levaram à reinvenção do produto, formação da equipa, enriquecimento da experiência do hóspede na unidade e abertura de portas à região do Oeste. Dada a sua história, revelou-se fundamental aumentar a confiança dos parceiros e promover a consistência dos standards de serviço e produto oferecido. Desta forma, está a ser promovido, já para o verão, um conjunto de iniciativas que passam por aumentar a diferenciação dos espaços encontrados no hotel, animações no final de tarde e entretenimento para crianças. Todas estas iniciativas espelham uma alteração de fundo da estrutura e gestão operacional, alinhado com a reestruturação e adoção de boas práticas, tendo em vista a preparação para a entrada de uma marca internacional.
Em que outros projetos se encontra a Blue Shift envolvida?
É fundamental, atendendo ao cliente que procura a participação da Blue Shift, que haja a maior discrição na abordagem aos seus projetos. A intervenção é reservada e caracterizada pela eficácia em concretização dos objetivos a que se propõe a nossa empresa. À semelhança do realizador que não surge num filme, à exceção do genérico, mas cujo cunho pessoal é evidente em pequenos detalhes de cada película que filma, também a Blue Shift não pretende surgir enquanto protagonista de cada um dos projetos, mas é possível, para os observadores mais atentos, constatar a sua intervenção. Desejamos que grande parte da intervenção e comunicação seja assente em comentários de anteriores e atuais clientes e, desta forma, permitir que outros nos procurem para que possamos desenvolver os nossos serviços. Esta é a relação que procuramos, posicionando-nos enquanto parte da solução e parceiro ideal para atingir aquele que é o seu objetivo.