“AMO O MEU PAÍS E TENHO ORGULHO EM SER ANGOLANA”
Licenciada em Direito, e antiga hospedeira da TAAG (Linhas Aéreas de Angola),Ana Paula dos Santos é sobejamente conhecida, em Angola e no mundo, pela sua beleza, simpatia e generosidade. O facto de ser casada com um dos políticos mais mediáticos e influentes do continente africano, o Presidente José Eduardo dos Santos, não lhe retira a graça e a simplicidade de abraçar causas justas e nobres na luta por uma vida sustentável e mais digna para o povo angolano.
Como se sente no papel de primeira-dama de Angola?
Sinto uma grande responsabilidade e, simultaneamente, um grande orgulho. Amo o meu país e tenho orgulho em ser angolana, o que simplifica muitas coisas, pois todas as minhas iniciativas e decisões são pensadas com o objetivo de fazer a diferença no modus vivendi da nossa gente, e este papel que represento ajuda-me a concretizá-lo.
Tal facto não é inibidor da sua liberdade pessoal?
De modo algum. Sinto-me muito bem em todas as atividades, gosto de me envolver pessoalmente nas missões, de conhecer a realidade, de ouvir e de conviver com as pessoas, em particular com as mulheres e com as crianças. Sou acarinhada e bem recebida por onde quer que vá e essa é a minha maior recompensa e gratificação. Em nada perturba a minha vida pessoal, afinal são questões que interessam a todos, sem exceção, lá em casa.
Mencionou em particular as mulheres e crianças, foi por isso que criou o Fundo de Solidariedade Social Lwini?
A ideia de criar o Fundo Lwini surgiu após uma visita da princesa Diana de Gales a Angola, em janeiro de 1997, numa das suas vastas iniciativas de ação social, com particular destaque para as vítimas de minas terrestres. Nesse sentido e em forma de homenagem, entre 1997 e 1998, um conjunto restrito de cerca de 20 pessoas amigas decidiram apoiar-me nesse projeto embrionário e, a 30 de junho de 1998, o Fundo Lwini é constituído como uma pessoa coletiva de direito privado sem fins lucrativos e de interesse geral, dotado de personalidade jurídica, que depois de alguns anos evoluiu para Fundação Lwini, dado que o seu âmbito foi-se alargando para portadores de deficiência e para a mulher rural nas suas várias vertentes.
Porquê a escolha do nome Lwini?
É um nome feminino e o nome de uma princesa na língua Luvale (Leste de Angola). É um nome bonito e fácil de memorizar. O seu significado tem tudo a ver com o nosso trabalho, o ondular das folhas nas savanas com o seu canto melancólico e o pôr do sol no horizonte. O nosso logotipo representa uma mãe a abraçar o seu filho, com dupla simbologia, representando a genuína expressão de proteção da mãe pelo filho, do adulto pela criança, da comunidade pelo seu membro, um elo de interligação entre os homens. Qualquer pessoa vítima de uma mina requer, desde logo, não somente atenção e tratamento, em consequência do seu estado físico, mas também assistência do ponto de vista psicológico, em função do grande abalo sofrido e de todas as transformações provocadas desde o plano individual e familiar ao sociocomunitário. A vítima das minas não tem idade. Deste modo, a Fundação Lwini é uma instituição de solidariedade que tem por objeto social a angariação de fundos e a execução de projetos de apoio às vítimas civis de minas terrestres, muitas delas mulheres e crianças. Daí o apoio à mulher no campo e na obtenção de microcrédito no sentido de promover a sua autossuficiência.
É esse o objetivo principal da fundação?
Essa é a linha mestra da ação. Na parte prática, este objetivo revela-se gigante e multiplicador, pois as nossas ações cresceram também no sentido de contribuir para a inserção e reinserção social das vítimas, nomeadamente ao nível de oportunidades de trabalho, quer através da realização de programas de educação especial e ações de formação profissional, quer através da promoção de empregos adaptáveis a cada situação psicomotora. Procuramos também promover a agricultura, a alfabetização, o desenvolvimento rural e os serviços sociais. Apoiar programas de criação de fundos e concessão de créditos às mulheres e outras iniciativas geradoras de rendimento no seio da comunidade rural, que incluem, especialmente, viúvas de guerra e crianças desamparadas. Procuramos ainda desenvolver ações que permitam o acesso direto e especializado em termos de assistência médica. Para tudo isto, é fundamental promovermos e implementarmos parcerias estratégicas (a nível do Estado e de privados), a fim de atingirmos os objetivos traçados.
Tem sido fácil desenvolver o projeto?
Nunca é fácil, sobretudo para objetivos tão ambiciosos como os nossos, pois queremos sempre mais e melhor. Sabe que é muito mais fácil destruir do que reconstruir, mas, o que posso dizer é que temos feito tudo o que está ao nosso alcance, atendendo aos meios e recursos de que dispomos. Temos chegado um pouco a todas as províncias e municípios de Angola e levado equipamentos e meios que permitem facilitar a vida a muita gente. Ainda temos um longo caminho pela frente, mas o importante é percorrê-lo todos os dias, cientes de que é prioritário, pois há sempre alguém que acredita que lá chegaremos com um abraço amigo de solidariedade.
A conjuntura política de Angola favorece as ações?
Sem dúvida que sim. Angola sem a paz e a estabilidade conseguida na última década jamais conseguiria desenvolver-se, nem o nosso trabalho de solidariedade social poderia progredir e multiplicar-se se não reinasse a confiança e estabilidade política.
O MPLA venceu as últimas eleições democráticas realizadas em 31 de agosto passado. Parece-lhe que Angola vai ter paz apenas enquanto José Eduardo dos Santos estiver no poder?
A estabilidade política é muito importante para a paz a todos os níveis, pois garante o crescimento económico, a estabilidade social e o seu progresso, permite aumentar o investimento estrangeiro, a segurança e todos os demais fatores colaterais. Angola tem tido tudo isso nos últimos 10 anos. Eu acredito que a paz e estabilidade é um processo resultante da união da sociedade angolana. Quem conhece dias de paz não pode desejar voltar a viver em conflito. Eu acredito que o futuro de Angola é um futuro de ascensão e progresso, por isso mesmo, só pode ser de paz por muitos e longos anos. Esta é a vontade de todos os que passaram pelas agruras da guerra, ou seja, mais de 90% dos angolanos.
A sua presença também é muito visível no Comité Miss Angola. Sente-se seduzida pelo mundo da moda?
Gosto do que é belo, da elegância na sua essência. Porém, não nego o fascínio que as passarelas e os concursos de “Miss” exalam e gosto do glamour que envolve o mundo da moda. A mulher angolana é muito bonita e charmosa. Todos os anos, a eleição Miss Angola é um momento alto para a sociedade angolana, é sempre uma escolha difícil.
A eleição de Leila Lopes como Miss Universo foi uma surpresa para si?
Foi uma enorme alegria, mas não posso dizer que foi uma surpresa total, pois a partir do momento em que uma miss é candidata a Miss Universo as hipóteses são iguais para todas. Há sempre muita expetativa e emoção a envolver o concurso. Foi um momento justo e o reconhecimento mundial da beleza da mulher angolana. Acho que já merecíamos este prémio, e a Leila foi a melhor opção, é uma mulher linda por dentro e por fora.
Considera uma vitória para Angola?
Bem, a vitória é da Leila, foram as suas qualidades físicas e intelectuais que lhe deram a vitória, e do Comité Miss Angola, que investiu nela. Porém, é claro que o sucesso de um angolano a nível mundial representa um orgulho para toda a nação. É bom que Angola se dê a conhecer ao mundo pelas coisas boas e positivas que temos. Temos um subsolo abençoado, mas temos também um povo com características várias, cultura e tradições peculiares que nos permitem competir com qualquer outro no mundo. Tenho a certeza de que muitas mais alegrias e triunfos virão futuramente para Angola, porque nós merecemos.