ALBINA ASSIS AFRICANO

FOTO OFICIAL AAA“NO ESTRANGEIRO, O MEU NOME E O DO MEU PAÍS SÃO INDISSOCIÁVEIS”

Albina Assis Africano. O nome evoca a dimensão de uma mulher-modelo: mãe, esposa, avó, ex-Ministra dos Petróleos, da Indústria, Presidente do Conselho de Administração da Sonangol, Conselheira Especial do Presidente da República de Angola, para a Integração Económica Regional da SADC. Estes são apenas alguns dos muitos cargos já desempenhados pela Eng.ª Albina Assis Africano. Dona de uma simpatia natural, esconde facilmente o orgulho de ser uma das mais conceituadas governantes africanas, reconhecida pelos seus grandes conhecimentos técnicos – em muito responsáveis pela supervisão e impulsionamento da expansão do setor petrolífero angolano. Temos perante nós uma exímia diplomata, perfecionista, trabalhadora incansável de permanente sorriso nos lábios, de quem muitos afirmam desconhecer o segredo para tamanha energia e vitalidade… Atualmente, é Presidente do Banco Alimentar de Angola, Membro do Comité de Sábios da União Africana para a Moderação de Conflitos e, desde há uma década, Comissária-Geral de Angola para as EXPOS.

O que representa para si ser nomeada, uma vez mais, Comissária-Geral de Angola para a EXPO?

Representa, sobretudo, um voto de confiança por parte de S. Exa. o Senhor Presidente da República de Angola, Eng.º José Eduardo dos Santos, em mim, no meu trabalho e nos resultados patentes ao público. Organizar e edificar um bom projeto com vista à participação numa exposição mundial é um trabalho extremamente exigente e complexo. Depois de tudo pronto, parece fácil mas, efetivamente, não é. Tenho muita sorte, por ter uma capacidade de trabalho multifacetada e adaptar-me facilmente a situações novas. Apreendo o essencial de cada desafio, coadunando-o com as diretivas e objetivos de desenvolvimento existentes para Angola. Por outro lado, também me associo a equipas técnicas e especializadas que me garantem uma qualidade de trabalho, estabilidade e confiança no cumprimento de prazos.

Como vê a progressão da participação de Angola ao longo das várias EXPOS?

Tem sido um amadurecimento contínuo. Ao fazer uma análise retrospetiva das participações de Angola em EXPOS (a primeira foi em Sevilha, 1992), e comigo como Comissária-Geral, reconheço na Expo do Japão, em 2006, um importante salto qualitativo, resultante do acumular de experiências, da conjugação de esforços, da planificação, entre outros fatores. Paralelamente, o Executivo Central tem vindo a acompanhar atentamente o nosso crescimento e reconhece que, internacionalmente, a participação de Angola em EXPOS tem um retorno positivo não só para a divulgação do país como a nível de captação de investimentos.

Considera, por isso, que as EXPOS são fundamentais?ANGOLA_IMBONDEIRO

São veículos promocionais bastante importantes. É o maior certame, a nível internacional e de maior durabilidade. Uma exposição internacional tem a duração de três meses, e uma exposição mundial, seis meses. Logo, é um período de permanência que permite relações protocolares, intercâmbios comerciais e industriais, troca de experiências, aspetos muito importantes para Angola e para os investidores estrangeiros. Temos usufruído de boas experiências, em particular nas Expos Shanghai (2010) e de Yeosu Korea (2012).

No dia 1 de maio tem início a Expo Milano 2015. Que expectativas tem?

As expectativas são boas. Milão é uma atraente cidade europeia, geograficamente bem localizada, e a Expo Milano 2015, ao escolher o tema “Alimentar o Planeta, Energia para a Vida”, veio, pela primeira vez, na história das EXPOS, abordar uma questão sensível que afeta o mundo inteiro, em especial África, o nosso continente, pois a alimentação é, na realidade, a fonte da vida. O tema da Expo Milano 2015 vai permitir, igualmente, uma reflexão global sobre o problema da má nutrição, resultante da situação de pobreza em que se encontram milhões de seres humanos no nosso planeta, com grande incidência no continente africano. Alimentar o Homem, ou melhor, alimentar o nosso planeta, de forma sustentável, foi a questão que nos uniu ao longo destes anos que antecederam a preparação das nossas exposições e que nos vai unir durante a nossa permanência em Milão de 1 de maio a 31 de outubro de 2015. Também gostaria de realçar que, pela primeira vez na história das EXPOS, encontramos a Organização da Expo (e consequentemente o BIE – Bureau International des Expositions) e as Nações Unidas juntos em direção aos mesmos ideais, coincidentes com os objetivos do milénio.

Foi nomeada Presidente do steering committee, ou seja, Presidente do Comité Diretor de todos os Comissários-Gerais da Expo Milano 2015. Que significado tem para si?

Bem… (risos), de uma forma geral, representa mais trabalho!! Mais deslocações, viagens, agendas e compromissos, para além dos que já tinha. Contudo, também tenho que reconhecer o lado positivo e gratificante por ter sido eleita de maneira tão entusiasta. São cerca de 150 países participantes, cada qual com o seu Comissário-Geral, e eu sou escolhida por unanimidade. Sinto que é uma honra para mim e para o meu país. Um reconhecimento do nosso empenho e trabalho desenvolvido até ao momento. Por outro lado, naturalmente que este cargo exige um maior entrosamento com os Comissários dos diferentes países, sobretudo no sentido de se encontrar soluções para os problemas que se colocam quer na preparação, quer durante, quer no período pós-expo.

Considera que é um reconhecimento pessoal ou do país?

Considero que é um pouco das duas coisas. No estrangeiro, o meu nome e o do meu País são indissociáveis. Eu trabalho em prol da divulgação do País, e o País concede-me a confiança e os meios para que eu o represente. Eu, sem o apoio do Governo de Angola, sou uma cidadã comum. Por isso, considero que esta nomeação é um reconhecimento natural de que Angola cresce e evolui no panorama internacional.

Como decorrem os trabalhos do Pavilhão de Angola?

Estão a correr bem e dentro dos prazos previstos. Angola foi o segundo país a apresentar o seu projeto executivo, logo a seguir à Alemanha. Neste momento, o trabalho decorre a bom ritmo, pelo que temos recebido várias referências na imprensa italiana. Tal significa que começámos há muito tempo, com um plano de trabalho e uma calendarização bem concebidos.

ANGOLA_night-02Como têm divulgado o vosso trabalho?

De uma forma natural. Temos participado e aderido a vários eventos promovidos pela Organização da Expo, como foi o caso da promoção do Programa Cultural e Gastronómico de Angola na Expo Gate, em Milão. Teve muito boa repercussão nos media italianos e angolanos, divulgação na Internet e nas redes sociais. Temos uma colaboração muito estreita com a Embaixada de Angola, em Roma, que também tem sido um aliado na divulgação e apoio nos trabalhos. Fizemos uma campanha promocional no aeroporto de Roma e as coisas surgem e fluem naturalmente. Por outro lado, em Angola temos feito também uma divulgação contínua das nossas atividades e lançámos, em 2014, uma campanha de sensibilização sobre os Hábitos Alimentares Saudáveis, de âmbito nacional, com particular ênfase para as camadas mais jovens.

Como será a participação angolana?

Angola é atualmente um dos países de África com maior crescimento económico e consequentemente em franco desenvolvimento, facto que será demonstrado e potencializado através da realização do nosso Pavilhão Independente, bastante grande, superando assim todos os pavilhões das EXPOS anteriores. Tal como referi, este pavilhão terá, aproximadamente, 3 mil metros quadrados de superfície expositiva, assente num conceito consubstanciado num modelo informativo e interativo, conjugado com uma diversidade de realidades de índole económica, agrícola, industrial, cultural, social, gastronómica, entre outras, respeitantes a uma Angola jovem e em permanente reconstrução.

Qual o tema defendido por Angola?

Iremos participar nesta exposição mundial com o subtema “Alimentação e Cultura: Educar para Inovar”, abraçando assim um dos subtemas propostos pela Organização e que se enquadra perfeitamente na nossa realidade nacional e na nossa visão sobre o tema geral. Sendo a Cultura a alma e expressão de qualquer país, através desta será possível apreciar e mostrar ao mundo toda a riqueza e diversidade da culinária angolana, bem como dos rituais, cerimónias e tradições que lhe estão associados, iniciando assim uma longa viagem onde estão presentes aspetos dessa mesma cultura e a sua interação com a dos outros povos. Através do desenvolvimento do tema “Alimentação e Cultura”, iremos demonstrar como foi possível ao longo dos séculos alimentar as nossas populações e poder-se-á estabelecer contactos mais próximos com os produtos que são a base de alimentação dos angolanos, com a educação alimentar das jovens gerações e como estes produtos têm vindo a ser usados de modo a contribuir para um estilo de vida mais saudável da população. Por outro lado, a segunda parte do slogan do nosso Pavilhão, “Educar para Inovar”, vai procurar traduzir a nossa visão do futuro, pois, para nós, educar significa essencialmente cuidar do bem-estar das gerações atuais e vindouras no que respeita à sua saúde e bem-estar social, enquanto a inovação deve aqui ser entendida como a necessidade de pesquisar e analisar as boas práticas seculares dos nossos antepassados, adaptáveis ao mundo atual, bem como a assimilação e a adoção de novas tecnologias nas mais diversas áreas da nutrição, como métodos de cultivo, utilização de novas espécies, distribuição de alimentos, partilha equilibrada de terras aráveis, contribuindo substancialmente para uma cadeia de abastecimento alimentar sustentável.

Referiu uma forte componente cultural e gastronómica. Acha que a gastronomia angolana terá uma boa recetividade em Milão?EGR_4352

Não tenho dúvidas de que teremos uma ótima aceitação. Em todas as EXPOS em que temos participado, o nosso restaurante tem sempre superado as nossas expectativas. Em Milão, estamos a envidar esforços para que tal sucesso se mantenha. O pavilhão terá dois restaurantes: um com pratos mais rápidos e tradicionais, e um segundo com uma cozinha mais elaborada, em que os produtos angolanos farão parte de uma cozinha gourmet.

A arte e a música são também pontos fortes da cultura de Angola. O que poderemos encontrar em Milão?

Em termos de arte, teremos dois tipos de exposições: uma convencional, com participação de artistas da UNAP, renovável de 15 em 15 dias, e outra temática, que conta com a participação de seis artistas convidados, especialmente para desenvolver um tema denominado “Seeds of Memory”. No que diz respeito à música, teremos uma representação da realidade angolana com sons que vão da música tradicional à contemporânea e clássica. O rufar dos tambores e a dança serão, mais uma vez, testemunho da nossa natureza africana. Teremos músicos residentes e músicos convidados para ocasiões especiais. Tenho a certeza de que o nosso cartaz não desiludirá…

A forte quebra da cotação do barril de petróleo afetou de forma grave e súbita a economia angolana. O seu trabalho como comissária foi afetado?

Tratando-se de um projeto que começou a ser desenvolvido há cerca de dois anos, naturalmente que tínhamos o programa e orçamento planificados, e por essa razão não fomos assim tão afetados. Contudo, procedemos a reajustamentos e, em particular nos eventos culturais, fizemos uma reavaliação tendo em conta a contenção de custos. Tudo o que afeta o país no geral, como é óbvio, afeta-nos também. Temos que ser mais seletivos e objetivos naquilo que fazemos.

EGR_4348Como prevê a retoma do país?

A situação económica de Angola terá uma retoma a curto prazo. A afetação devido à queda do preço do petróleo bruto é uma realidade que poderá e está a ser ultrapassada com aquilo a que podemos chamar a sustentabilidade do petróleo, isto é, diversificando a economia através de investimentos em recursos renováveis. Esta recessão súbita foi uma lição de economia que Angola recebeu. Atualmente, já começa a haver uma preocupação com a agricultura. Passou a haver, por exemplo, o crédito para agricultura, o programa “Angola Investe”, o que a médio prazo poderá resultar numa mudança de filosofia económica. Há um desenvolvimento dos polos industriais que estavam parados. Quer dizer que estamos já a arrancar em duas vertentes renováveis. Embora não com o mesmo dinamismo, o setor das pescas já arrancou e poderá, igualmente, ser uma importante fonte de receita. São processos que levam algum tempo, porque é preciso criar mecanismos e estruturas, mas acredito que estamos no bom caminho.

É uma senhora que não esconde a idade que tem (69 anos). Onde vai buscar energia para realizar tantas atividades?

Na simples vontade de fazer. Quando aceito e assumo os meus compromissos, tenho consciência da responsabilidade e das expectativas que pretendo alcançar, por isso, muitas vezes exijo sacrifícios a mim mesma, mas procuro aceitar projetos que se enquadrem na minha estrutura de vida, transformando o trabalho numa forma de prazer. Gosto muito de trabalhar e não me vejo, no futuro, mesmo numa situação de “reforma”, a passar os meus dias num estado permanente de lazer.

Que projetos tem para o futuro?

Adoraria concretizar um velho sonho: criar uma Organização de Apoio à Pobreza e, provavelmente, criar um Centro de Formação Profissional. Procurar melhorar as condições de vida dos mais pobres e, em simultâneo, criar formas de melhorar as oportunidades de trabalho. Vamos ver o que o futuro me proporciona… Nunca se sabe!

Que mensagem gostaria de deixar para a juventude angolana?

Que sejam fiéis continuadores da geração presente, no que respeita ao trabalho, desenvolvimento sustentável do País e, sobretudo, amor ao próximo. É importante que os jovens não cresçam fechados num ciclo de egoísmo e ambição desmesurada.