ESTREITAR RELAÇÕES COM O ORIENTE
Classificada por fonte da Presidência da República como uma das mais importantes visitas de Estado de Cavaco Silva, e numa altura em que se assinala o 35.º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre Portugal e a China, a viagem oficial a Xangai, Pequim e Macau prolongou-se por uma semana.
Com uma agenda carregada, um dos pontos mais importantes desta visita foi o encontro com o Presidente chinês, Xi Jinping, bem como a passagem por Macau. A visita do Presidente da República à China, feita a convite do homólogo chinês, elevou a um novo patamar a parceria estratégica entre os dois países. Mais de 100 empresários – de áreas tão diversas como banca, advocacia, farmacêutica, imobiliário, turismo, vinhos, agroalimentar, arquitetura, além de representantes de várias associações de jovens empresários – acompanharam Cavaco Silva nesta viagem oficial. Da comitiva fizeram ainda parte os ministros dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, da Economia, Pires de Lima, e da Educação e Ciência, Nuno Crato. O vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, só acompanhou a visita em Pequim. Também todos os partidos, à exceção do BE, que não costuma acompanhar as deslocações do Presidente da República, integraram a comitiva, assim como o presidente da AICEP, Miguel Frasquilho. Além da participação em dois seminários económicos, ao longo do programa da visita o Presidente da República teve ainda encontros mais privados com empresários chineses, nomeadamente com os presidentes da Fosun, grupo chinês que adquiriu recentemente 80% da Caixa Seguros, e da China Three Gorges, o maior acionista da EDP. Além desta “componente económica muito marcada”, conforme sublinhou fonte da Presidência da República, a visita de Cavaco Silva à China contou também um vasto programa cultural e uma vertente académica muito grande. Aliás, da comitiva oficial fizeram desta vez parte representantes das maiores universidades portuguesas, além da Fundação Calouste Gulbenkian e da Fundação Oriente. O último governador de Macau, general Vasco Rocha Vieira, integrou igualmente a comitiva.
Durante a sua estada na China, Cavaco Silva participou em seminários económicos, teve “encontros de trabalho” com empresários dos dois países e visitou universidades. O momento alto da visita aconteceu quando foi recebido no Grande Palácio do Povo, em Pequim, pelo homólogo chinês. Numa cerimónia impressionante, Xi Jinping fez desfilar centenas de militares frente à praça Tiananmen. No encontro que decorreu a seguir, entre as delegações chefiadas pelos dois chefes de Estado, falou-se no aprofundamento da cooperação na área do turismo. Nos contactos que tiveram no gigante asiático, tanto Cavaco Silva quanto o ministro da Economia têm insistido na necessidade de aumentar o fluxo de turistas entre os dois países, nomeadamente através de voos diretos entre Lisboa e Pequim. Na sua chegada a Macau, Cavaco Silva foi recebido no aeroporto por duas crianças, de uma escola luso-chinesa, que entregaram ao casal presidencial 15 rosas brancas. Já na sede do Governo, o Presidente da República recebeu como prenda do chefe do Executivo de Macau, Chui Sai On, um quadro com uma imagem em relevo das Ruínas de São Paulo, o ex-líbris do turismo local, Património da Humanidade e um legado português na cidade. No quadro da administração de Macau, Cavaco Silva condecorou Guilherme Ung Vai Meng, presidente do Instituto Cultural de Macau e artista plástico que sempre defendeu a herança cultural da cidade. O ramo cultural, educacional e social das condecorações prosseguiu com Amélia António, presidente da Casa de Portugal, que procura preservar o legado português e promover as tradições nacionais na cidade, e com Rui Cunha, advogado e presidente da Fundação Rui Cunha, que aposta na promoção da cultura produzida pelos residentes e, através do Centro de Reflexão e Estudo do Direito de Macau, na preservação do Direito de matriz portuguesa em Macau. No campo político, o chefe de Estado impôs condecorações ao macaense Jorge Fão, antigo deputado à Assembleia Legislativa e fundador da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau, e a José Pereira Coutinho, presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau, conselheiro das comunidades portuguesas e deputado à Assembleia Legislativa local, que, em 2013, reforçou a posição da sua lista no hemiciclo ao conseguir a eleição de um segundo deputado, entre 14 eleitos no sufrágio universal. O leque dos medalhados encerrou com Ambrose Sou Shu Fai, o cônsul-honorário de Portugal em Hong Kong, presidente do conselho de administração da Sociedade de Jogos de Macau, a empresa de jogo fundada por Stanley Ho e que lidera o mercado de jogo local. Cavaco Silva destacou o “dinamismo” de Macau, região onde o êxito dos portugueses “é fator essencial para a valorização das relações com a China”. “Podemos hoje testemunhar o sucesso do modelo alcançado, bem patente no extraordinário desenvolvimento económico desta região administrativa especial”, disse o Presidente na receção à comunidade portuguesa, com que terminou a sua primeira visita oficial à China enquanto Presidente da República. Segundo Cavaco Silva, cada emigrante português é “um verdadeiro embaixador de Portugal, um testemunho vivo” daquilo que é o país.
O Presidente da República fez um balanço desta visita oficial e está convencido de que fez o seu trabalho, acrescentando que “agora, deverão ser os empresários a levantar-se das cadeiras e a fazer o seu”. Cavaco Silva mostrou-se otimista e afirmou estar convencido de que, “se aproveitarmos bem, será positivo para Portugal” o novo relacionamento que se estabeleceu com a China. Durante a visita oficial, foram assinados 29 acordos e memorandos de entendimento entre os dois governos, empresas e universidades. “Penso que nunca houve, no passado, algo semelhante”, calcula o governante, que fez 18 encontros políticos, empresariais e académicos e 15 intervenções públicas. Por tudo isto, e na opinião de Cavaco Silva, o balanço foi “muito positivo”.