PRESIDENCIAIS 2016
MARCELO VS. OS CANDIDATOS DA ESQUERDA
Com o previsível apoio do PSD e do CDS, Marcelo Rebelo de Sousa parte em vantagem para as Presidenciais 2016. À esquerda, e sem um apoio oficial do PS a nenhum candidato, as candidaturas multiplicam-se.
O tiro de partida para a corrida presidencial já foi dado e na primeira linha estão já vários candidatos ao prémio final, a maioria deles ainda sem apoio formal de qualquer partido e alguns até com a certeza de que farão todo o percurso sem esse suporte. Marcelo Rebelo de Sousa, Maria de Belém, Sampaio da Nóvoa, Henrique Neto, Edgar Silva, Marisa Matias, Cândido Ferreira, Manuel João Vieira e Paulo Morais são para já os candidatos conhecidos. Rui Rio desistiu de avançar depois de Marcelo tomar a dianteira e reduzir no PSD o espaço para o apoio a outra candidatura que não a sua. Ainda assim, formalmente, Passos Coelho ainda não anunciou essa decisão de colocar a máquina social-democrata ao serviço da eleição do professor, a quem em tempos apelidou indiretamente de “catavento”. No PS, António Costa acabou por ter que tomar uma decisão inédita no partido: não apoiar oficialmente qualquer candidato numa primeira volta. Depois da derrota do PS nas eleições legislativas, o secretário-geral viu a sua margem reduzida para apoiar um candidato que não surgisse de dentro do partido, como era o caso de Sampaio da Nóvoa. Com Maria de Belém, antiga presidente do PS, no terreno e os socialistas divididos no apoio entre ela e o antigo reitor da Universidade de Lisboa, António Costa percebeu que essa guerra interna só abriria ainda mais as feridas que estão latentes no PS.
PCP e BE com candidatos próprios
O PCP e o BE, cuja hipótese de apoiarem também Sampaio da Nóvoa chegou a estar em cima da mesa, acabaram por decidir então avançar com os seus próprios nomes. Edgar Silva, o madeirense que já foi padre, foi o nome escolhido. Marisa Matias, eurodeputada, é a grande surpresa guardada pelos bloquistas para esta eleição. Mas que corrida será esta, com o país ainda a apanhar os cacos de uma solução de Governo que pode ser tudo menos estável? Os candidatos têm centrado a sua campanha na ideia de que não farão parte de uma segunda volta das eleições legislativas, mas têm noção de que muito do futuro do país poderá ficar para decidir depois da sua posse. Com os seus poderes constitucionais limitados, Cavaco Silva não teve agora forma de convocar novas eleições e isso acabou por forçar uma solução que noutras circunstâncias poderia ter que ser novamente validada nas urnas. Mas ao novo Presidente eleito em janeiro poderá vir a ser exigido que tome essa decisão. Se o Governo estiver a ser permanentemente bloqueado na Assembleia da República, o próximo inquilino de Belém poderá ter que marcar eleições legislativas assim que tomar posse. Marcelo Rebelo de Sousa tem bem claro na sua cabeça o que se avizinha e, por isso, na apresentação da candidatura declarou: “Não serei nem candidato nem Presidente de metade do país contra outra metade. Comigo as presidenciais não serão nem uma segunda volta das legislativas ou do Governo delas saído, nem a busca de uma muleta para alcançar o que não foi obtido nas legislativas ou no Governo. Outros pensarão de forma diferente. É assim que eu penso e que ajo.” O professor ainda não conta com o apoio oficial do PSD e do CDS, mas na entourage dos dois partidos esse apoio é dado como certo.
Esquerda dividida
Já Maria de Belém, que aceitou sem crítica o facto de o PS não apoiar nenhum candidato na primeira volta, joga tudo numa vitória e sabe que para que tal aconteça o cenário com melhores hipóteses é conseguir garantir uma ida à segunda volta, onde congregaria em torno da sua candidatura todos os votos da esquerda agora polarizada. Mas é na independência da sua candidatura, que a ex-ministra da Saúde centra o essencial da mensagem. Candidata-se à Presidência da República com o compromisso de fazer uma Presidência “das pessoas, para as pessoas, pelas pessoas, com as pessoas” e acredita que o facto de não estar ligada a nenhuma “agenda partidária” é a “melhor garantia pessoal e política” de que exercerá o mandato presidencial com “igual autonomia das agendas políticas”. Ainda assim, Maria de Belém conta já com o apoio de destacadas figuras do PS: Almeida Santos, Jorge Coelho, Marçal Grilo, Manuel Alegre, Carlos Zorrinho, foram algumas das figuras que já deram nota pública desse apoio. Também Sampaio da Nóvoa, que chegou a esperar o apoio de António Costa e do PS, decidiu manter-se na corrida apesar dessa decisão dos socialistas e procura agora jogar na independência o elemento nuclear da sua candidatura. Para já, tem o apoio oficial e manifestado publicamente dos antigos presidentes da República Jorge Sampaio, Ramalho Eanes e Mário Soares. Henrique Neto, o fundador da Iberomoldes e primeiro candidato oficial à Presidência da República, promete fazer uma campanha pobre e já veio dizer que em Portugal se utiliza “a ação política para agradar ao eleitorado e anestesiá-lo com promessas não cumpridas”. Edgar Silva, apoiado pelo PCP, promete ser um Presidente da República mais interventivo, que vai olhar pelos mais pobres, pelos trabalhadores, os desempregados e lutar por “um outro rumo e uma outra política capazes de responder aos problemas de Portugal”. Marisa Matias, a eurodeputada do Bloco de Esquerda, é mais uma das candidatas que promete dividir os votos da esquerda portuguesa. Joga tudo numa ida à segunda volta e no objetivo de impedir que se estenda a passadeira vermelha a Marcelo Rebelo de Sousa. Cândido Ferreira, que tem denunciado as dificuldades que são colocadas pela diferença de tratamento público das várias candidaturas, tem entre as suas promessas a diminuição dos serviços da Presidência da República e ser um chefe de Estado que “mostre estar com a sociedade”. Paulo Morais e Manuel João Vieira também estão na corrida.