NOMES QUE NÃO VAMOS ESQUECER
A cada ano que passa, nomes, factos e figuras ficam retidos na nossa memória pelo protagonismo que conferiram a determinado momento, localizado no espaço e no tempo. Para a FRONTLINE, estes seis nomes serão incontornáveis neste ano que entra, sem mérito ou desmérito para os muitos que ainda se venham a revelar.
RUI RIO
Ganhou a liderança do PSD num ciclo que não lhe é favorável, quer no seio do seu partido, onde não conseguiu afirmar uma vitória expressiva, quer na conjuntura política que vive o país, governado por uma “solução” socialista que ainda navega com vento de feição. Há uma pergunta que pode parecer demasiado intuitiva: conseguirá Rui Rio liderar uma oposição afirmativa contra Costa e recentrar o PSD no espetro político como muitas vozes reclamam? Nunca uma resposta assumiu uma perspetiva tão crítica para o maior partido político português, que navega numa deriva remetida para uma oposição que não se consegue afirmar politicamente perante os portugueses. Serão a seriedade intocável, o reconhecido pragmatismo e a capacidade política, aliados a uma reconciliação interna no seu partido, condições suficientes para Rio afirmar a sua liderança e recolocar o PSD no poder? Mesmo a quem é reconhecida uma grande incapacidade para lidar com a adversidade? O ano de 2019 o dirá, mas dirá para ambos os lados, porque, quer a Rio quer a António Costa, adversidades não vão faltar nos escassos dois anos que faltam até às próximas eleições legislativas.
MARCELO REBELO DE SOUSA
Escrevemos nestas mesmas páginas, há um ano atrás, que a única certeza sobre Marcelo era que o novo Presidente da República marcaria tempos diferentes e seria um importante sinónimo da mudança estrutural, política e democrática para o país. Mas, ao mesmo tempo, também deixámos uma pergunta em aberto: verdadeiramente, o que o país quereria saber era quem seria este Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, na multiplicidade de facetas que, ao longo destes últimos 40 anos, conhecemos ao homem Marcelo Rebelo de Sousa. Hoje a resposta está dada. Marcelo Rebelo de Sousa revelou-se e impôs-se na condução política do país quando as circunstâncias assim o exigiram; rompeu com interesses sempre que necessário; elogiou e criticou independentemente de credos, filiações ou convicções e revelou-se ao lado dos portugueses quando a consciência assim o determinou. A marca é indelével. Haverá sempre um antes e um depois de Marcelo Presidente e dos tempos novos que trouxe na relação entre eleitos e eleitores.
ANTÓNIO GUTERRES
O ano de todos os perigos! E desta feita não se trata de um qualquer épico cinematográfico, mas antes a afirmação crua, em poucas palavras, dos desafios que esperam o secretário-geral da ONU nos próximos anos. Curiosas, para quem já não se lembra, foram as suas palavras quando tomou posse em Nova Iorque, ao recordar as guerras que lia descritas nos livros de História da sua juventude: “nessa altura tinham sempre vencedores e vencidos. Hoje as guerras não têm vencedores, todos perdem”. Para 2018, Guterres não tem entre mãos dossiers fáceis, a começar pela tensão nuclear na península coreana, passando pelo futuro da Síria, o drama dos movimentos migratórios e a crise dos refugiados, a temática das alterações climáticas que é hoje um assunto cimeiro da agenda política internacional, o problema do combate global ao terrorismo, as negociações de paz para diversos conflitos, como Israel, a Palestina e o mundo árabe, até ao desnorte de uma América governada por Donald Trump. Mas reforçando aquilo que Vitaly Churkin, o embaixador russo nas Nações Unidas, já tinha dado a entender, Guterres tem-se vindo a afirmar como o homem certo no sítio certo. E isso hoje é unanimemente reconhecido.
JOANA MARQUES VIDAL
Os tempos não se têm afirmado fáceis para a Justiça em Portugal, e naturalmente que a Procuradora-Geral da República não poderia escapar incólume à crescente turbulência e politização a que os portugueses assistiram no último ano neste domínio. Apesar do retrato otimista que Joana Marques Vidal traçou recentemente na abertura do ano judicial, mesmo ao afirmar que “é justo reconhecer como positivos os resultados dos caminhos até agora percorridos”, os mais críticos continuam a acusar os agentes da justiça de exacerbado corporativismo na defesa de interesses próprios e não na prossecução de uma justiça de cidadania. Pese embora a validade ou não destas afirmações, a verdade é que o mandato de Joana Marques Vidal (adiante da polémica, mais uma, da sua recondução ou não no cargo) será sempre recordado pelo aniquilar de algum sentimento de impunidade dos “poderosos” perante a justiça em Portugal. Basta recordar os casos de José Sócrates ou de Ricardo Salgado e da queda da família Espírito Santo. E aqui, justiça seja feita às suas palavras: “o Ministério Público conheceu um desenvolvimento coerente e coeso da sua atividade e assiste-se, hoje, a um mais eficaz exercício de ação penal, mesmo quando está em causa criminalidade de elevada complexidade”.
MÁRIO CENTENO
E o “patinho feio transformou-se num cisne branco”. As palavras, felizes e de felicitação, foram de Marcelo Rebelo de Sousa quando foi conhecida a vitória da eleição do ministro das Finanças português para presidente do Eurogrupo. E de facto foi uma vitória em duas frentes, para um desconhecido que se afirmou na ribalta política em escassos dois anos. Vitória pessoal de Mário Centeno e vitória de Portugal pelos resultados alcançados pela ação da sua mão governativa. Mais ainda num país acabado de sair de um resgate financeiro imposto por uma troika internacional. Cabe agora a Mário Centeno fazer jus aos seus créditos. A verdade é que grande parte dos anticorpos europeus que teve inicialmente de enfrentar decorriam mais de uma natureza política conservadora – e com uma visão muito própria do exercício do poder democrático – instalada nas cadeiras do poder em Bruxelas e Berlim, e que reagiu com grande animosidade à solução política de centro-esquerda instalada em Portugal. Uma vez ultrapassada a questão política por força dos resultados obtidos, Centeno tem agora palco para protagonizar uma viragem na União Europeia, que muitos vaticinaram de adiada há décadas. Cabe agora ao ministro português, e recente líder incontestado do Eurogrupo, trilhar esse caminho de sucesso, ao qual, independentemente da filiação política de cada um, o país terá de ficar reconhecido.
ANTÓNIO COSTA
Autor confesso da “geringonça”, o atual primeiro-ministro António Costa parece estar a perder os ventos de feição. A meio de um mandato de governação, os sinais ainda não são de alarme e os socialistas estão ainda a tentar construir os cenários futuros do que podem esperar da liderança de Rui Rio à frente dos destinos do PSD. Mas se é verdade que a avaliação da maioria dos portugueses sobre os dois primeiros anos de mandato da inédita solução política ensaiada por socialistas, bloquistas e comunistas, ainda é favorável e recomendável, não é menos verdade que setores de charneira da sociedade portuguesa começam a manifestar o seu público desagrado pelo incumprimento de promessas e compromissos ou pelo sucessivo adiar de necessárias reformas estruturais. Se é verdade que António Costa saiu bastante chamuscado da tragédia dos incêndios que flagelaram o país no ano passado, também é verdade que setores como a Justiça, a Saúde e a Educação se estão a tornar num foco incendiário que poderá assumir consequências políticas nefastas para o atual Governo. Já aqui afirmámos que António Costa mostrou uma extraordinária capacidade de mobilizar um país que se revelou como o seu mais precioso trunfo político contra os seus adversários. Mas também já aqui afirmámos, com mais certeza do que hoje, que consiga Costa equilibrar a equação do seu programa político com a governação exigida à sua esquerda e os compromissos de um país europeísta, e Portugal será rosa certamente por mais do que uma década. O próximo ano dará resposta a esta questão.