2016: OS NOMES QUE NÃO VAMOS ESQUECER
Por cada ano que passa, nomes, factos e figuras ficam retidos na memória pelo protagonismo que imprimiram a determinado momento, localizado no espaço e no tempo. Se deles ficam memórias ou as suas ações arrastam ou arrastarão consequências futuras, a cada um de nós competirá julgar. Para a FRONTLINE, estes seis nomes serão incontornáveis neste ano que entra, sem mérito ou desmérito para os muitos que ainda se venham a revelar.
PAPA FRANCISCO
Em tempos conturbados, de acelerada e incontrolável mudança, Francisco será talvez o bastião mais forte que a Igreja Católica alguma vez teve. Simples na palavra, próximo no gesto e arrebatado por um ímpeto reformista sem precedentes, desconcertante quando aborda temas tabu da doutrina católica como o aborto ou batiza e acolhe no seu seio filhos de casamentos civis ou de mães solteiras, este Papa não deixa, contudo, de afirmar a sua defesa intransigente de valores supremos, como na afirmação da Fé ou na defesa da família como ainda recentemente afirmou: “Não pode haver confusão entre a família que Deus quer e qualquer outro tipo de união.” Muitos duvidaram que a própria Igreja Católica fosse capaz de acompanhar a dinâmica reformista de Francisco, mas a força da sua nova evangelização e a sua aproximação aos fiéis, rompendo o afastamento alarmante que dominou o prelado do seu antecessor alemão, tem sido tão avassaladora que, cada vez mais, será difícil ouvir vozes erguerem-se contra o seu magistério. Como aqui já o tínhamos retratado, de Francisco prevalecerá sempre a imagem de singela humildade de um Papa que parece apostado em retomar o carisma da popularidade de João Paulo II, alicerçando a sua ação num discurso de pastor, solidário, preocupado com quem sofre e carece de atenção e justiça, mas com um constante apelo à cultura do diálogo e à comunhão nas diferenças.
MARCELO REBELO DE SOUSA
Contra ventos e marés, ventos soprando de quadrantes elitistas e marés empurrando vagas de resquícios políticos, Marcelo Rebelo de Sousa concretizou algo em que poucos alguma vez acreditaram e foi eleito, num movimento sem precedentes, Presidente da República Portuguesa. Passado o rescaldo do momento e da emoção, que presidente será Marcelo? Que Presidente quer o país que seja Marcelo? Esta é a equação que conta e aquela a que Marcelo Rebelo de Sousa atribuirá importância, para agrado ou desagrado dos políticos, dos partidos, das forças que gravitam à volta deste universo. Certeza única é que o atual Presidente marcará tempos diferentes, sendo um importante sinónimo da mudança estrutural, política e democrática que o país começou desde há uns meses a esta parte a conhecer e a viver. Marcelo trará certamente tempos novos na sua relação com os eleitos e os eleitores, mais ainda depois do anterior mandato de um presidente do qual os portugueses se divorciaram. Mas verdadeiramente o que o país quer saber é quem será este presidente Marcelo Rebelo de Sousa, na multiplicidade de facetas que, ao longo destes últimos 40 anos, conhecemos ao homem Marcelo Rebelo de Sousa
ANTÓNIO COSTA
Revelou ambição e um raro sentido de oportunidade política, destruiu o conceito do arco da governação, fez a democracia funcionar em pleno e conseguiu chegar a primeiro-ministro. Mas o desafio de agora não será menor, sustentado que está numa maioria pluripartidária e na necessidade de encontrar o equilíbrio entre as propostas que terá de apresentar para a recuperação económica e social do país, sem ignorar as medidas de austeridade ainda necessárias para não comprometer o futuro dos portugueses no médio e longo prazo. Relembremos aqui o que já há um ano atrás dissemos de António Costa: “Figura de destaque em 2104, ano que marcou de uma forma meteórica a sua consolidação política – ao conseguir uma vitória sem precedentes na sua recondução à frente dos destinos da Câmara Municipal de Lisboa e ao conquistar a liderança dos socialistas, conseguindo uma mobilização sem precedentes na história do partido – entra neste novo ano (leia-se 2015) já consagrado como o futuro primeiro-ministro de Portugal.” Consiga o atual primeiro-ministro equilibrar a equação do seu programa político, com a governação exigida à sua esquerda e os compromissos de um país europeísta, e Portugal será rosa certamente por mais do que uma década.
ADALBERTO CAMPOS FERNANDES
Médico, gestor, especialista em saúde pública e com um vasto currículo profissional e político, Adalberto Campos Fernandes foi o escolhido para enfrentar os desafios daquela que é talvez a pasta governativa mais complexa, até pela sua exposição mediática, de qualquer Governo. Tão verdade que, ainda na curta vigência da sua ação governativa, já se viu confrontado com uma panóplia adversa de situações, desde o caso das mortes no serviço de Neurologia do Hospital de São José, ao mais recente episódio dos ensaios clínicos que envolveram a portuguesa Bial. Mas o que ressaltou foi a extrema serenidade que, neste e noutros casos, o atual ministro da Saúde já revelou. Essa mesma serenidade com que já iniciou um movimento reformista que se adivinha profundo na saúde em Portugal. E o que os seus adversários políticos já perceberam é que Adalberto Campos Fernandes não se deixa intimidar e o recurso ao diálogo não é prova de fraqueza, mas sim exigência de comprometimento de todos os intervenientes numa reforma até hoje, à esquerda e à direita, tão politicamente reivindicada, mas nunca efetivamente concretizada. O atual ministro já revelou a intenção, terá agora de provar a sua capacidade para o fazer.
PASSOS COELHO
Ao contrário de António Costa, Passos Coelho apenas conseguiu chegar a líder da oposição. As culpas apenas as poderá atribuir a ele próprio e ao caminho de radicalização política que protagonizou com os seus pares. O líder do PSD foi incapaz de ver para além do momento, do imediato, e os sociais-democratas vivem hoje uma crise de afirmação política, mais ainda arrastados por um parceiro de coligação que em muito contribui para descaracterizar o pensamento ideológico do principal partido português. “O que quer Passos Coelho do PSD ou o que quer o PSD de Passos Coelho?” é uma pergunta que este ano terá e será certamente respondida. Bem ou mal, o atual líder protagonizará o destino no futuro próximo, reconhecendo-se-lhe uma inegável resiliência e uma enorme capacidade de regeneração política. Hipoteticamente afastado o protagonismo de Paulo Portas na disputa da convergência política do centro-direita em Portugal, conseguirá Passos Coelho liderar uma oposição afirmativa contra Costa e recentrar o PSD no espetro político como muitas vozes reclamam? 2016 o dirá.
PAULO PORTAS
Anunciou com pompa e circunstância a sua saída e o seu afastamento da liderança do CDS. Mas o gesto esconde duas verdades incontornáveis: Portas já nos habituou às suas decisões irrevogáveis, mas que são revertíveis a qualquer momento, e que responsabilidades lhe seriam cobradas no futuro por deixar o seu partido à deriva, mais ainda quando no horizonte próximo não se afigura ninguém com reconhecida capacidade e forte afirmação política para liderar o destino dos centristas. Se a direita portuguesa está órfã, este gesto de Portas parece apenas contribuir para aumentar esse sentimento de orfandade e cavar ainda mais o fosso de radicalização política que PSD e CDS alimentaram nestes últimos quatro anos. “Qual é a estratégia de Portas?” é uma pergunta a que, por enquanto, só ele saberá responder, mas uma certeza é inabalável: 2016 será mais um ano de protagonismo de Paulo Portas, restando saber como vai conseguir gerir o capital político da figura ímpar em que se tornou na vida dos portugueses. Até lá, os centristas correm o risco de uma erosão política acelerada e de se tornarem num partido sem expressão no atual quadro de representatividade democrática no nosso país.