BURNING MAN

amigos-do-diaBURNING MAN – REGRESSO A CASA?

Descrever o Burning Man é muito difícil. Concretamente, é um festival no estado de Nevada (EUA), no qual participam cerca de 70 mil pessoas que constroem uma cidade (Black Rock City) no meio do deserto, durante uma semana. No centro da área, com 2,4 km de diâmetro, encontra-se uma estátua do Homem, em madeira, onde no final da semana todos se juntam para a queimar. Não é um festival de música, mas tem muita música. Também não é um festival de arte, mas também tem arte fabulosa.

Quando descrevemos a experiência fisicamente, dizem que estamos loucos e o que é que vamos para lá fazer. “Eu pagava para não ter de ir” é um comentário normal. São sete dias onde quase não tomamos banho, filas gigantes para chegar, um calor escaldante durante o dia e frio durante a noite, sem falar de um pó que entra em todos os lados e não nos abandona por meses e tempestades de areia que não nos deixa ver ou respirar. Quando falamos da experiência pessoal, em que não se pode comprar nem trocar nada (não se usa dinheiro, oferece-se tudo), porque existe um espírito de comunhão e amor, e mostramos as fotografias, somos classificados de “hippies e pervertidos”. A verdade é que também não interessa muito o que as pessoas dizem e pensam, o Burning Man é um momento de expressão própria em que a nossa liberdade termina onde começa a do outro. Participar no Burning Man é uma experiência única. Uma sociedade utópica criada nas condições mais inóspitas. A arte existe por todas as partes, em todas as formas e feitios, e é participativa. Vários dos melhores DJs e músicos estão presentes e atuam em palcos criados pelos participantes no deserto.

 Durante o diaa-believe-arte-na-playa

“O que se faz todo o dia?” é uma das perguntas mais difíceis de responder. Nunca sabemos o que fazemos, mas estamos sempre ocupados. Vamos para festas, ver arte, conhecer pessoas, meditar, assistir a TED talks, ouvir conferências de sadomasoquismo e bondage, abraçamos as pessoas que passam por nós, ouvimos música, criamos arte, queimamos arte, tiramos fotos, andamos quilómetros e quilómetros de bicicleta. Ao contrário do tradicional festival onde a organização cria os espaços, no Burning Man os participantes criam quase tudo. Perto de São Francisco, este festival atrai muitos dos empreendedores de Silicon Valley e é descrito por muitos como uma forte influência na cultura local (e como tal na cultura mundial dada a influência dessas empresas na economia global). Parte do processo de contratação de Eric Schmidt para CEO da Google foi ir com os fundadores ao Burning Man. E nas suas palavras: “É bem documentado que eu vou ao Burning Man. O futuro é criado por pessoas que têm uma visão alternativa do mundo. E nunca se sabe onde se vão encontrar as ideias.” É o caso de Elon Musk, que teve a ideia de criar a empresa Solar City com o seu primo durante o evento.

foto-03-09-16-2-05-51Pontos importantes

Ainda não desistiu da ideia de ir? Vamos a alguns detalhes para ajudá-lo:

– Como chegar lá

Conseguir os bilhetes é a primeira missão. No próximo ano o evento terá lugar entre 27 de agosto e 4 de setembro. Para comprar os bilhetes é necessário registar-se no site na data indicada e com esse registo temos acesso à venda, num dia específico, algumas semanas depois (normalmente fevereiro ou março). Nos últimos anos éramos mais de 20 pessoas ao mesmo tempo a tentar comprar e só conseguimos seis bilhetes, já que se esgotaram 30 mil bilhetes em 10 minutos. Normalmente conseguem-se bilhetes mais próximo do evento, já que várias pessoas começam a entender que ir ao evento é mais difícil e caro do que parece. O bilhete custa cerca 400 dólares, o que, comparado com todo o custo da experiência que pode variar entre 1500 e mais de 30 mil euros (na minha experiência um valor com algum conforto é de 4 mil euros), não é o mais significativo.  Para voar, a cidade mais próxima é Reno, mas muitas pessoas preferem voar para São Francisco ou Las Vegas, onde conseguem alugar autocaravanas por um custo menor. A partir destas cidades existe também a hipótese do burner express, autocarros da organização. Se preferir, pode ainda optar por voar diretamente para o aeródromo improvisado de Black Rock City (como é conhecida a zona do Burning Man), mesmo em avião privado.

– Onde ficar

Por maior que seja o luxo, do pó ninguém se escapa. Pode-se acampar em tendas ou em autocaravanas (RVs) e existem ainda outros tipos de estruturas como yurts (um tipo de cabana). Podemos optar por ir por nossa conta ou por nos juntarmos a outros grupos de pessoas em acampamentos (alguns temáticos). Normalmente, tem de se ser convidado para os acampamentos, mas nos últimos anos têm aparecido alguns campos já completamente preparados (Plug and play). Viver num espaço com um RV ou tenda por uma semana requer flexibilidade e disciplina. Quando corre bem, é das melhores experiências, mas com alguma frequência corre mal, escolha bem com quem vai. Sobre o que levar, para além de toda a comida e bebida, entre o indispensável, temos óculos de sol, protetor solar, máscara para o pó, roupa muito quente e muito fresca, uma bicicleta, etc. A nível de roupa e disfarces, são proibidas marcas visíveis e, provavelmente, se for com a roupa que usa normalmente não se vai sentir totalmente integrado. A partir daí, pode ir nu, com tutus, vestido de astronauta ou steampunk, que vale tudo.

Um final apoteóticothe-burn-2016

No final da semana os participantes juntam-se à volta da estátua que é queimada. Para alguns, trata-se de uma representação de queimarmos o que queremos deixar para trás e reinventarmo-nos para o novo ano.     O significado fica ao critério de cada um, não existe um específico. A saída não é fácil, parece que chegámos de outro planeta, onde gostávamos de estar, para regressarmos ao mundo normal. Nos primeiros dias falamos com os nossos amigos que já lá estiveram enquanto nos reintegramos. Passamos a ser as piores pessoas para convidar ou para jantar nos meses seguintes, porque quando nos juntamos costuma ser o tópico da conversa. Apesar de toda a crítica, o Burning Man é, para mim, uma exibição, mesmo que por uns dias, do melhor e mais criativo que há no ser humano, e a influência que tem na nossa cultura tem sido importante. Esses dias ajudam muitas pessoas a quererem ser a melhor versão deles próprios, e isso reflete-se nas suas vidas e empresas quando regressam ao mundo real. Quem não vai não entende, quem vai chama-lhe “casa”.