LIDERANÇA

CURRAHEE OU UMA LIÇÃO DE LIDERANÇA

Band of Brothers é uma soberba lição de História e talvez um dos mais marcantes documentos fílmicos sobre a Segunda Guerra Mundial. Mas é simultaneamente um magistral tratado doutrinário sobre liderança. Seis décadas volvidas, valeria a pena que muitas empresas portuguesas oferecessem a série produzida por Steven Spielberg e Tom Hanks aos seus executivos, em vez de andarem a desperdiçar dinheiro em coaching ou outras acções dispersas.

Um bom líder tem de compreender os seus subordinados, tem de compreender as suas necessidades, os seus anseios e a sua forma de pensar […] Ele saltava para o desconhecido. Nunca punha a hipótese de não ir à frente ou mandar alguém no lugar dele. Não sei como sobreviveu, mas sobreviveu.” Este é o relato verdadeiro de um dos sobreviventes da Companhia Easy, da 101.ª Divisão Aerotransportada dos Estados Unidos, que foi largada atrás das linhas inimigas a 6 de Junho de 1944, o dia D, ao falar sobre o seu comandante Richard Winters. A Easy tornou-se uma mítica força de combate na Segunda Guerra Mundial, desde que abandonou a sua base em Camp Toccoa com destino à Normandia, até à tomada do Ninho da Águia de Hitler, nos Alpes, em Berchtesgaden. “A tale of ordinary men who did extraordinary things” foi o mote de Spielberg e Hanks para produzirem a série televisiva Band of Brothers, que relata a história da Companhia Easy e dos seus homens, baseada no livro de Stephen Ambrose e nos testemunhos dos seus sobreviventes, que aparecem retratados na série em entrevistas e também depoimentos. Mas Band of Brothers não é só talvez um dos mais marcantes documentos fílmicos sobre a Segunda Guerra Mundial.Analisado noutra perspectiva, oferece-nos um magistral tratado doutrinário sobre “A Liderança” e não sobre liderança. Mais curioso, quando percebemos que passaram mais de 60 anos e o paradigma retratado não mudou. Mais preocupante, quando percebemos que esta ainda é uma realidade distante em Portugal.

A união faz a força

Nessa mesma perspectiva, Currahee, a tortuosa colina adjacente à base de treino dos pára-quedistas, em Camp Toccoa – “three miles up, three miles down” –, encerra uma dupla carga simbólica: construiu e cimentou o sentimento de pertença do grupo e tornou-se, em simultâneo, o símbolo dos homens do Regimento e da Companhia Easy. Porquê? Porque fica muito claro da lição que se retira da Easy, que a sua eficácia em combate resultou de uma ponderosa combinação de fortes lideranças a todos os níveis na escala da organização. Uma liderança afirmada em condições limite, quando se definem patamares de objectivos, mas cujo limite inferior desses mesmos objectivos significa sempre perdas e, neste caso, de vidas humanas.(…)