TODOS DIFERENTES, TODOS IGUAIS… UMA TRETA!
A importância da imagem, principalmente a imagem do deficiente (porque há muito deficiente que não tem “esse” comprometimento na imagem), reflecte a maturidade humana e cultural de uma comunidade. Neste domínio, infelizmente os portugueses ainda vivem na idade das trevas.
Estava na praia com o meu marido e chegou um casal com uma criança que aparentava ter cerca de dois anos. Instalaram-se, criaram um espaço para a menina e sentaram-se ao sol. Ela tinha síndrome de Down. Continuei a olhar o horizonte e a perder-me no azul infinito do mar quando, de repente, o meu marido me questiona: “Aquela menina tem síndrome de Down, não tem?” Depois desta questão, decidi partilhar, aqui, a forma como lidamos com a diferença. O meu marido não tinha perguntado nada se a criança fosse “simplesmente igual aos outros”. As pessoas em volta não tinham olhado mais do que um par de vezes se ela fosse igual aos outros. Porque nos fascina a diferença, neste caso específico no sentido da deficiência e se cultiva o “coitadinho”? Muito aprendemos, muito ensinamos aos nossos educandos e muito defendemos no sentido de “todos diferentes, todos iguais”: mentira!! Os diferentes são diferentes na sua deficiência e, quer queiramos quer não, o mundo é dos iguais. A saída do novo Decreto-Lei 3/08 que substituiu o antigo Decreto-Lei 319/91 faz-nos pensar que finalmente os governantes se lembraram das crianças e jovens com necessidades educativas especiais em Portugal (os diferentes). Se o Decreto-Lei 319/91 tinha lacunas e não contemplava áreas importantes, a nova legislação já as contempla mas tem lacunas noutras áreas. Resumindo: os dois juntos fariam a diferença. A diferença das diferenças.
Sabemos, é senso comum, que as crianças são cruéis no seu modo de lidar com os outros, mas também sabemos que nós, pais e educadores, pouco ou nada fazemos para minimizar essa crueldade inerente à condição humana: quando os miúdos são pequenos, são os pais os primeiros a comentar (baixinho, para que ninguém ouça) que “o Manuel, coitadinho, tem um atraso” e comummente outros acrescentam: “será que o Manuel, coitadinho, não vai prejudicar o rendimento escolar do nosso Joãozinho?”. Assim, como se alteram mentalidades? Como é que as nossas crianças poderão deixar de ser cruéis se a diferença ainda não é encarada como um ensinamento e uma mais-valia para os que convivem com ela? (…)