FERNANDO NEGRÃO

58012.80038-Inteligencia-ArtificialA REVOLUÇÃO QUE NINGUÉM VAI PODER PARAR

Desde os anos 40 do século passado que se pesquisava na área de uma incipiente ciência que no futuro veio a chamar-se “Inteligência Artificial” e que tinha como objetivo encontrar novas funcionalidades para os computadores (já em projeto). Com o advento da Segunda Guerra Mundial, esta ciência ganhou novo impulso pela necessidade sentida de desenvolver tecnologia para impulsionar a indústria militar.

O russo Isaac Asimov deu-nos um conto, que veio a ser adaptado ao cinema em 1999, com o título O Homem Bicentenário, que conta a saga do robô Andrew em busca da liberdade e de conseguir tornar-se o mais próximo possível de um ser humano. O mesmo autor escreveu uma outra história a que deu o nome Eu, Robô, em 2004, igualmente adaptada ao cinema, na qual criou enredos assustadores e absurdos para os humanos e que envolviam robôs. Com base num conto de Brian Aldiss, em 2001, Steven Spielberg realizou um filme sobre a possibilidade da criação de máquinas com sentimentos. E, ainda, filmes como 2001: Uma Odisseia no Espaço, dirigido por Stanley Kubrick, Matrix, de Andy e Larry Wachowski, e Exterminador do Futuro, de James Cameron, pretendem mostrar-nos como a humanidade pode ser vencida por máquinas que conseguem pensar e ser mais implacáveis que os seres humanos. Dizia-se destes contos, histórias e filmes serem ficção científica. Acontece, porém, que já desde os anos 40 do século passado se pesquisava na área de uma incipiente ciência que no futuro veio a chamar-se “Inteligência Artificial”, e que tinha como objetivo encontrar novas funcionalidades para os computadores (já em projeto). Com o advento da Segunda Guerra Mundial esta ciência ganhou novo impulso pela necessidade sentida de desenvolver tecnologia para impulsionar a indústria militar. Terminada a guerra e recompostas as economias, nos chamados anos 60, a dita ciência, que passou, então sim, a ter a designação de “Inteligência Artificial”, envereda pela investigação na área biológica, estudando conceitos que pretendiam imitar as redes neurais humanas, acreditando ser possível vir a ter máquinas que levariam a cabo tarefas humanas complexas como, por exemplo, raciocinar. Após anos sem notícias, os estudos sobre redes neurais voltam a dar sinais de vida em 1980, mas é em 1990 que se faz sentir o grande impulso que consolidou de facto essa rede como base de estudos da inteligência artificial.

Um novo conceitointeligencia_artificial

Agora sim, poderá chegar-se a uma definição deste novo conceito e que ficou assim: “O ramo da ciência da computação que se propõe elaborar dispositivos que simulem a capacidade humana de raciocinar, perceber, tomar decisões e resolver problemas, ou seja, de ser inteligente.” Hoje em dia são muitas e variadas as aplicações, na vida real, da inteligência artificial. Jogos, programas de computadores, aplicações de segurança para sistemas de informação, robótica (robôs e auxiliares), dispositivos para reconhecimento de escrita e voz, programas de diagnóstico médico, planeamento – e aqui o exemplo mais simbólico é o Deep Blue, programa da IBM que venceu o campeão mundial de xadrez Kasparov, em 1997 – e tantos outros. Nesta altura do texto já será bom parar para pensar…

maxresdefaultComo será o futuro?

O que estaremos a fazer a nós próprios, criando “entidades” mecânicas que já em quase nada se diferenciam de nós, humanos? Senão vejamos: os cientistas já desenvolveram robôs que são mais inteligentes que nós; já existem robôs que são muito semelhantes aos seres humanos e, por fim, embora ainda em desenvolvimento, especialistas do grupo East Asia Microsoft já criaram um programa informático de inteligência artificial que pode pôr um robô a sentir emoções, bem como a falar com as pessoas de uma forma mais natural e “humana”. É, por isso, no mínimo curioso analisar a decisão dos ingleses de deixar a União Europeia e a eleição de Donald Trump pelos americanos, por terem em comum o prometido anseio de “trazer de volta os empregos”. Foi esta a base nacionalista ou isolacionista que levou aos acontecimentos mencionados, à revelia da inevitabilidade da globalização, da impossibilidade de fazer parar a ciência e da incapacidade da velha política e da velha ciência de lidar com a revolução que só não se anuncia porque já está presente nas nossas vidas. O economista Mark Muro, da Brooking Institution, afirma que a digitalização e a automação têm possibilitado a produção de bens e serviços com alto valor agregado sem se ter de empregar grande número de pessoas. O reconhecido físico Stephen Hawking sustenta que “a automação das fábricas já dizimou postos de trabalho na manufatura tradicional e a ascensão da inteligência artificial provavelmente estenderá essa destruição às funções das classes médias, com a sobrevivência apenas de papéis mais criativos de supervisão ou de cuidados pessoais”. A Universidade de Oxford realizou um estudo em que conclui que, nos próximos 20 anos, 35% dos postos de trabalho no Reino Unido serão substituídos por robôs artificialmente inteligentes, e a própria Economist tem vindo a citar estudos que estimam que entre um terço e metade das funções correm o risco de ser automatizadas. Os pesquisadores Danna Remus (University of North Carolina) e Frank S. Levy (M.I.T.), no artigo académico “Can Robots Be Lawyers? Computers, Lawyers and Practice of Law”, a determinada altura dizem-nos “(…) trata-se do impacto da inteligência artificial na automação de algumas práticas jurídico-legais, como a permitida por algoritmos que fazem extração de informação de processos jurídicos e topic modeling (…), através de métodos estatísticos que analisam as palavras dos textos originais para descobrir os seus temas, de que forma esses temas estão ligados uns aos outros e como mudam ao longo do tempo”. Por tudo isto, é imprescindível a nossa atenção. Especial atenção para as competências necessárias para o trabalho do século XXI. Adequar o sistema de educação, formar cidadãos mais capacitados para uma realidade profundamente diferente da atual, rever a rede de segurança social e fazê-la evoluir por forma a poder dar solução a grupos maiores de pessoas, ajudando-as a reintegrar-se numa sociedade bem mais intelectual que manual.

Será que estamos despertos e preparados?inteligencia-artificial-8

Países como a Suíça e a Finlândia já começaram a considerar ativamente esta nova realidade e iniciaram um processo de adequação das suas sociedades, começando pelo principal, que são os sistemas de educação. E aqui privilegiando o desenvolvimento da habilidade de metacognição baseado em STEM (Ciência, Engenharia, Tecnologia e Matemática), associado ao método grego de “arte liberal” por se entender que é a maneira mais eficiente de adequar a forma de pensar para uma mentalidade mais direcionada à criação de propriedade intelectual. Da mesma forma que a civilização prosperou e criou novas ocupações aquando da mecanização e da automação no passado, conseguirão agora os países e os seus líderes reconfigurar de novo e dar as melhores e mais adequadas respostas a uma realidade com um impacto centenas de vezes mais intenso e rápido e com uma dimensão ética nunca vista? Temos que acreditar que sim, embora se sinta que em muitos casos se continua a olhar para a sociedade da mesma forma que no século passado e a pressentir que corremos o sério risco de ir atrás dos acontecimentos, atordoados, sem rumo e muitas vezes sem perceber. Acreditemos que não. Apostemos nas novas gerações que percebem isto melhor que todos. Tenhamos confiança no futuro e sejamos sábios, pois o desafio é de peso!