TRUMP BACK TO BUSINESS
A eleição de Donald Trump não deixou os americanos indiferentes e muito menos o mundo, que continua expectante do que poderá vir a ser a atuação do novo inquilino da Casa Branca, agora transmutada para a Trump Tower.
A eleição de Donald Trump sinaliza a ascensão dos populismos, o saudosismo de líderes fortes e a ideia messiânica de um libertador que no contraponto conta com a fraqueza das instituições. Os eleitores aderem, assim, a líderes mais vocais e com programas antissistema. Esta eleição de Trump fez despertar uma América que vive muito do debate da opinião pública e que vai ter consequências muito diversas, desde logo, o reordenar das correntes políticas do Partido Democrata, mas também do Republicano, dado que o novo presidente sintetiza um novo agregado político-ideológico. Estamos perante um novo chamamento aos valores da Pátria, ao orgulhosamente nós e a um fechamento em relação ao mundo exterior, em detração da cooperação geralmente pródiga feita até agora com países terceiros em quase todos os domínios, mais expressivamente na área comercial, económica e de segurança e de defesa. E isto faz surgir muitos receios e medos que, para já, parecem injustificados, até porque as instituições americanas ainda não foram abolidas e o sistema de Checks and Balances, freios e contrapesos, que assenta na ideia da separação de poderes e nas teorias de John Locke e de Montesquieu, visa evitar a concentração absoluta do poder nas mãos de uma única pessoa ou órgão, estabelecendo-se, assim, um saudável e democrático controlo mútuo.
Pilares da Constituição dos Estados Unidos
Ora um dos pilares da Constituição dos Estados Unidos é a ideia do equilíbrio entre as atribuições dos três poderes: o executivo, o legislativo e o judicial. Esta garante várias atribuições e competências ao Congresso, órgão legislativo por excelência, nomeadamente, aplicar e cobrar taxas, regular a impressão de moeda e o seu respetivo valor, estabelecer serviços de correio e estradas, criar tribunais, avaliar as nomeações feitas pela presidência, determinar conflitos bélicos e regular a atuação das Forças Armadas. Sabe-se também que o Congresso, embora de maioria republicana, tem sido muito crítico em relação a algumas das medidas preconizadas por Trump, pelo que se antevê, inicialmente, conflitos entre aquele e a presidência que, crê-se, ao longo do mandato irão sendo temperados. Também a escolha da equipa presidencial, especialmente dos secretários de Estado, vai ser um fator determinante naqueles equilíbrios institucionais ou na falta deles, mas genericamente as escolhas feitas têm sido sempre em função das sensibilidades das opiniões públicas. Para já, a mais icónica medida é o simbólico muro, agora começado a ser chamado de vedação, e que é mesmo para avançar, na enorme extensão da fronteira dos EUA com o México, que tem mais de 3200 km, bem como a ideia de expulsar 2 a 3 milhões de clandestinos criminosos. Temos aqui, desde logo e estranhamente, um negócio quase desconhecido que volta a florescer, e que é a indústria privada das prisões. Com efeito, isto vai traduzir-se num forte aumento de imigrantes presos, dado que a sua expulsão pressupõe um processo judicial prévio e, logo, a respetiva detenção. Esta indústria está avaliada em 5,3 biliões de dólares e as duas principais empresas do setor, a Corecivic e a GEO Group, que estavam moribundas, viram as suas ações subirem 43% e 21%, respetivamente. Também o dólar, que caiu na noite das eleições, voltou a subir e a registar a sua maior valorização face ao euro, desde a sua criação, com intervenções cambiais nos países emergentes na tentativa de segurarem as suas divisas.
Política económica e comercial
Contudo, a política económica e comercial é aquela que mais receios gera, nomeadamente na Europa, sobretudo se no day one a Parceria Transatlântica entre os Estados Unidos e a União Europeia for abandonada, o que implicará que a maior zona de comércio livre do mundo deixe de ser concretizada, sendo um rude golpe para o Velho Continente, dado que as trocas internacionais têm sido o grande motor do crescimento europeu e mundial. Há setores americanos que olham com preocupação a eventual revogação dos acordos multilaterais, dado que podem surgir retaliações e, logo, maiores dificuldades para a indústria exportadora. Também a UE terá de começar a pensar em independentizar-se e a prover à sua autossuficiência, não só no domínio comercial como no da segurança e defesa, porque Trump já afirmou não querer que a América continue a ser o polícia do mundo, o que, consequentemente, põe em causa a própria estrutura e sustentabilidade da NATO. Claramente, a prioridade de Trump é a economia doméstica, a qual associa aumento de despesa pública e cortes de impostos a grandes investimentos em infraestruturas, e a condenação da política seguida até aqui pela Reserva Federal, de injeção de liquidez e de juros baixos, importante para sustentar as bolsas. A subida brusca das taxas de juros causaria grandes desequilíbrios na economia mundial e é uma má notícia para a Europa, ainda a braços com a crise do sistema financeiro e das dívidas soberanas, mas que poderá atrair para os Estados Unidos um afluxo massivo de capitais à procura de melhores remunerações. Em suma, algo está a mudar nos Estados Unidos com Trump back to business e, consequentemente, muito vai mudar na Europa e no mundo que, apesar de tudo, espera-se, seja capaz de manter os equilíbrios ao nível do desenvolvimento e da paz mundial.