CONHECIMENTO

O CONHECIMENTO E O FUTURO

É comummente atribuída a Francis Bacon a frase “Conhecimento é Poder”, no sentido em que o conhecimento aumenta o potencial do seu detentor, mas com o efeito pernicioso de a sua posse exclusive aumentar ainda mais esse potencial. Hoje, libertas as amarras da exclusividade pela democratização do acesso à informação, esta frase assume, mais do que nunca, uma relevância ímpar num contexto de mudança frenética, contínua e sem barreiras à sua propagação.

 

Portugal, na situação económica e financeira precária em que se encontra, deve apostar vigorosamente no reforço do seu capital de conhecimento em todas as suas vertentes. Mas quando digo Portugal, não me refiro apenas ao Estado Português mas ao tecido social português. Refiro-me às empresas, às associações e em particular aos cidadãos, às pessoas. Vivemos na era do conhecimento porque este é gerador de valor e só através da geração de valor se consegue obter crescimento económico. A crise económica e fi nanceira que atravessamos e as restrições a que vamos estar sujeitos pela execução do Memorando de Entendimento assinado entre o Estado Português e o FMI e a União Europeia, como forma de travar e inverter a escalada da Dívida Pública, irão limitar seriamente as nossas possibilidades de crescimento nos próximos meses, senão anos. A esta perspectiva cabe-nos a resposta de investirmos individualmente no aumento da nossa produtividade e em conhecimento. A primeira numa perspectiva, infelizmente reactiva, de curto prazo, a segunda numa perspectiva estruturante de médio e longo prazo.

 

Efeitos visíveis

Vivemos a segunda maior onda de emigração dos últimos 11 anos. Segundo o Instituto Nacional de Estatística, em 2010 saíram de Portugal para trabalhar no estrangeiro 23.760 portugueses, mais do dobro do que no início do milénio. Mas,

desta vez, a grande diferença está no nível de qualifi cacao dos nossos emigrantes que é bastante elevado. Estamos a exportar conhecimento. Sinto uma satisfação particular em rever esta estatística, mas preocupa-me a nossa incapacidade de reter este talento em Portugal. Paradoxalmente, ou talvez não, a melhor forma de reter este talento é investindo ainda mais em conhecimento, pois só assim conseguiremos criar condições para a criação de emprego qualifi cado no País. Um dos grandes destinos da nossa emigração é Angola. Apesar da grande proximidade histórica, linguística e afectiva, apresenta diferenças culturais signifi cativas e que não devem ser encaradas de forma despiciente por quem aí procura desenvolver uma actividade profi ssional. Nos últimos meses tenho tido a oportunidade de visitar Angola com regularidade, a título profissional, e deparei-me com uma realidade inesperada, em muitos sentidos, mas que me tem servido para uma reflexão mais profunda sobre a forma como Portugal deve encarar as suas relações com este país. E esta refl exão leva–me, mais uma vez, ao poder do conhecimento. (…)