LUÍS MIRA AMARAL

CATALUNHA

A situação deve preocupar-nos na frente económica pois 25% das nossas exportações vão para Espanha e o efeito negativo, para essas exportações, do arrefecimento económico espanhol é maior do que o efeito positivo do desvio de fluxos turísticos da Catalunha para Portugal. Relativamente a Portugal, a Catalunha foi, depois da Galiza, a comunidade autónoma de Espanha que mais importou do nosso país, representando 15,9% das importações espanholas. Por outro lado, a Catalunha foi a comunidade espanhola que mais exportou para Portugal, sendo nós o 4.º principal mercado para a Catalunha. Os governos regionais da Catalunha aproveitaram a autonomia no âmbito do Estado espanhol para montarem polícia própria e um sistema educativo em que não se aprende o castelhano, mas sim o catalão, doutrinando os jovens para a independência. No fundo fizeram nas escolas o que os fundamentalistas islâmicos fazem nas mesquitas… Como li num jornal espanhol, o ex-líder do governo catalão tem uma visão mística da independência e é no fundo um autêntico Kerensky nas mãos duma frente esquerdista, radical e anarquista, que, como disse alguém, sonha fazer da Catalunha uma Venezuela da zona euro… Percebi claramente isso quando nas manifestações contra os atentados nas Ramblas, em que estiveram o rei e Rajoy, as palavras de ordem não eram contra o terrorismo islâmico, mas sim contra o Estado espanhol e as potências capitalistas… Essa frente também protesta por a Catalunha, uma das regiões mais ricas do país, financiar regiões mais pobres de Espanha. Se fossem os alemães a contestarem o apoio ao Sul da Europa, o que diria uma certa esquerda… Puigdemont, manobrado por essa frente, convocou um referendo ilegal face à Constituição Espanhola, que não teve as mínimas garantias de seriedade, transparência, e declarou unilateralmente a independência suportado numa maioria parlamentar. Rajoy errou ao enviar a polícia espanhola para tentar evitar esse referendo. Tais métodos só são permitidos em regimes como o venezuelano… É evidente que essa declaração de independência não foi reconhecida pela UE. Apenas países como a Venezuela, um farol da liberdade, do Estado de Direito e de democracia, apoiaram… Aqueles cronistas de esquerda que, em Lisboa, apoiavam sempre o veto do Tribunal Constitucional às decisões dum governo maioritário CDS-PSD suportam agora as decisões do ex-Executivo catalão, ilegítimas face à ordem constitucional, como o Supremo Tribunal Espanhol referiu… Qualquer governo minimamente decente em Madrid teria que repor a legalidade e convocar novas eleições na Catalunha. E é surpreendente que os jornais portugueses anunciem a maioria da frente independentista, esquecendo que o partido mais votado foi o Ciudadanos, que defende a manutenção da Catalunha no Estado espanhol, e que a maioria dos votos expressos nas urnas não é pela independência, e portanto se fosse um referendo, os independentistas teriam perdido… Acresce que esta votação nos partidos independentistas foi de 47,5 %, ficando até ligeiramente  aquém dos 47,7 % obtidos por estes partidos nas eleições de 2015. O número de deputados desses partidos reduziu-se de 72 para 70, num total de 135 no parlamento catalão. Entretanto em Bruxelas, Puidgemont reclama pelo respeito dos resultados das eleições, esquecendo que tal não lhe dá nem legitimidade política nem constitucional para declarar a independência. Apenas se se entenderem, Puidgemont e aliados terão legitimidade, apoiados por uma maioria meramente parlamentar, para governarem a Catalunha.